Façamos as contas ao próximo exercício. Você aí que ainda nem recebeu os míseros trocadinhos do patrão e ouve a mulher querendo comprar comida pros filhos, não se apavore não, tudo está nos “planos”. A numerosa equipe montada pelo presidente Lula para a transição de governo, da qual participam cerca de setenta petistas com passagens pela polícia(?), dispõe de orçamento milionário de R$3,22 milhões. Uma generosa verba para menos de 60 dias de trabalho até Lula assumir o Palácio do Planalto. O montante é quase 10% do que está previsto na Lei Orçamentária de 2023 para o principal programa habitacional do Brasil, o Casa Verde e Amarela: R$ 34,1 milhões. Enquanto que a saga continua: STF amordaça 7 deputados federais (eleitos e no mandato) nas redes sociais; Kicis e Cabo Junio se somam a Nikolas, Gayer, Coronel Tadeu, Vitor Hugo e Zambelli, todos do PL, claro. A carroça? Mesmo sem consenso, CCJ do Senado avalia PEC do estouro nesta terça-feira, é ideia dos aliados do presidente é sugerir uma audiência pública antes da votação; CCJ terá que apreciar pelo menos 29 emendas. Senadores pressionam por mais discussão antes de votar a ‘PEC Fura-teto’ e ol íder do governo no Senado, Carlos Portinho, apresentou requerimento à CCJ solicitando audiência pública com o ministro Paulo Guedes e outros integrantes da atual equipe econômica. Caminhando e vendo tolhido qualquer tipo de pessoa apontados pelo não sei o quê como atentados aos Direitos Humanos, calando aqui e ali. (Armando Andrade)
Cuidado com o que
toleras
Disse alguém, não sei quem: “Cuidado
com o que toleras. Podes estar ensinando os outros sobre como devem te tratar”.
É
na esteira de sucessivas tolerâncias que a tirania avança no Brasil. Não
preciso mencionar o longo caminho percorrido. Enquanto o ministro Alexandre de
Moraes operava seus sigilosos, ameaçadores e inconclusos inquéritos, alegando
agir em defesa da democracia e do estado de direito, a tirania estendia as mãos
sobre os demais poderes do Estado e sobre a liberdade de opinião dos cidadãos.
As
redes sociais haviam sido o principal instrumento através do qual a direita
democrática, conservadora e liberal vencera o pleito de 2018. Era preciso
minimizar essa influência. Opiniões “perigosas” sobre liberdade e valores
tinham que ser contidas. O cidadão comum, com essas ideias, cuja propagação se
viabilizara com as plataformas, era o adversário a ser combatido. E foi o que
se viu. Queda de perfis, bloqueio de contas bancárias, desmonetizações, multas
astronômicas, investigações criminais abertas para assim ficarem, etc. Os fatos
e números da repressão foram pingados como “gotas de colírio” nos olhos até de
quem não os queria ver.
“Fake
news” foi a expressão vadia do vocabulário para justificar tudo, inclusive o
silenciamento ou a negação da verdade.
Há
meses não se consegue publicar uma nota sobre assunto de viés político sem que
surjam insistentes advertências sobre o TSE como fonte de informações ou sobre
o TSE e o resultado final da eleição. Para que raios a onipresença do Estado e
de sua corte eleitoral em todos os conteúdos políticos das redes sociais? Que
coisa mais ostensivamente cubana!
A
situação que descrevo não é antidemocrática? Não é antidemocrática a conduta de
um Congresso que não defende os direitos dos cidadãos e que cala perante a
censura? Não é antidemocrático suprimir o acesso às redes sociais? Não é
antidemocrático contratar empresa para soltar cães farejadores no espaço
digital? Não é mais antidemocrático ainda cancelar redes sociais de congressistas,
suprimindo-lhes os meios modernos para o pleno exercício da representação
constitucionalmente a eles atribuída?
A
cada avanço, um recuo. A cada abuso tolerado, mais um trecho da estrada dos
abusos é pavimentado e aberto ao tráfego. Até que um dia a casa cai. É o que
ensina a longa história dos povos. (Percival Puggina, membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é
arquiteto, empresário e escritor)
“Acreditar é monótono,
duvidar é apaixonante, manter-se alerta: eis a vida.” (Oscar Wilde)
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