Em minhas caminhadas diárias, passo sempre pelo Agenor...
Agenor é
um morador de rua que, há anos, fincou seu pouso sob uma marquise, bem em
frente a um grande supermercado.
Mas,
Agenor, não é um morador de rua comum: tem um colchão espesso, travesseiro,
roupa de cama, cobertores, um grande cesto de lixo ao lado, duas vassouras, um armário onde guarda
suas panelas, utensílios, roupas e outras
quinquilharias. Tudo bem limpinho, organizado, longe do aspecto pouco saudável que
geralmente cerca outros moradores de rua.
Agenor
deve ter sido alguém relativamente bem posicionado em sua vida: tem documentos,
título de eleitor, uma bíblia, alguns cadernos cheios de anotações e, quase
sempre, está com um radinho ligado, junto a seu ouvido... Aparenta ter uns 75
anos...
De tanto
passar por ali, aos poucos estabeleci um relativo contato com o Agenor, seja dando
bom dia, seja comentando sobre o tempo, seja lhe repassando um pacote de pão, iogurtes,
ou uma lata de sardinha que adquiria ali no supermercado.
Ano
passado, Agenor ficou desaparecido por uns dois meses. Quando voltou, perguntei-lhe
o que havia ocorrido e ele me disse que fora levado pela Prefeitura, meio
contra sua vontade, para um abrigo de moradores de rua... Mas não se adaptou. Muitas
regras, muita mistura de gente com comportamentos diferentes, muitas disputas e
brigas. Agenor disse que, acima de tudo, preservava sua liberdade.
E voltou
para seu pouso...
No mês
passado, com jeito, perguntei-lhe se ele ia votar... Com naturalidade, me
respondeu que sim e que seu voto, seria para o Ciro Gomes. “...Não voto em ladrão, nem em ditador...”, acrescentou ele.
Com meus
botões, matutei: “...esse é dos meus...”. E querendo lhe retribuir um agrado
por sua escolha, perguntei-lhe, antes de entrar no supermercado, se estava
precisando de algo. Ele respondeu: “... sim,
preciso de uma nova escova de
dentes e meu dentifrício acabou....”
Esse é o
Agenor!...
Hoje,
naquele contato rápido que geralmente tenho com ele, ousei arriscar: “...E aí, Agenor, no domingo, vai votar...?“.
“...Sim... Entre um ladrão ou entre
um ditador e louco que também é ladrão, no
desespero, sou obrigado a votar naquele que só é ladrão...”. Primeiro, é preciso salvar a
democracia e a nossa liberdade. Depois, damos um jeito de prender os
ladrões...”
Obrigado,
Agenor, por sua sabedoria! No domingo,
não vou mais anular meu foto!... (Márcio Dayrell
Batitucci)
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