25 de out. de 2022

Sabedoria...

Em minhas caminhadas diárias, passo sempre pelo Agenor...

Agenor é um morador de rua que, há anos, fincou seu pouso sob uma marquise, bem em frente a um grande supermercado.

Mas, Agenor, não é um morador de rua comum: tem um colchão espesso, travesseiro, roupa de cama, cobertores, um grande cesto de lixo  ao lado, duas vassouras, um armário onde guarda suas panelas,  utensílios, roupas e outras quinquilharias. Tudo bem limpinho, organizado, longe do aspecto pouco saudável que geralmente cerca outros moradores de rua.

Agenor deve ter sido alguém relativamente bem posicionado em sua vida: tem documentos, título de eleitor, uma bíblia, alguns cadernos cheios de anotações e, quase sempre, está com um radinho ligado, junto a seu ouvido... Aparenta ter uns 75 anos...

De tanto passar por ali, aos poucos estabeleci um relativo contato com o Agenor, seja dando bom dia, seja comentando sobre o tempo, seja lhe repassando um pacote de pão, iogurtes, ou uma lata de sardinha que adquiria ali no supermercado.

Ano passado, Agenor ficou desaparecido por uns dois meses. Quando voltou, perguntei-lhe o que havia ocorrido e ele me disse que fora levado pela Prefeitura, meio contra sua vontade, para um abrigo de moradores de rua... Mas não se adaptou. Muitas regras, muita mistura de gente com comportamentos diferentes, muitas disputas e brigas. Agenor disse que, acima de tudo, preservava sua liberdade.

E voltou para seu pouso...

No mês passado, com jeito, perguntei-lhe se ele ia votar... Com naturalidade, me respondeu que sim e que seu voto, seria para o Ciro Gomes.  “...Não voto em ladrão, nem em  ditador...”, acrescentou ele.

Com meus botões, matutei: “...esse é dos meus...”. E querendo lhe retribuir um agrado por sua escolha, perguntei-lhe, antes de entrar no supermercado, se estava precisando de algo. Ele respondeu: “... sim,  preciso de uma nova  escova de dentes e meu dentifrício acabou....”  

Esse é o Agenor!...

Hoje, naquele contato rápido que geralmente tenho com ele, ousei  arriscar: “...E aí,  Agenor, no domingo, vai votar...?“.

    “...Sim... Entre um ladrão ou entre um ditador e louco que  também é ladrão, no desespero, sou obrigado a votar naquele que só é  ladrão...”. Primeiro, é preciso salvar a democracia e a nossa liberdade. Depois, damos um jeito de prender os ladrões...”

Obrigado, Agenor, por sua sabedoria! No domingo, não vou mais anular meu foto!... (Márcio Dayrell Batitucci)

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O teto vai ruir...

Façamos as contas ao próximo exercício. Você aí que ainda nem recebeu os míseros trocadinhos do patrão e ouve a mulher querendo comprar comi...