8 de jul. de 2016

É um nunca terminar a corrupção...

 photo o osso_zpsvehiyabk.jpg • Governo anuncia rombo de R$ 139 bilhões na meta para 2017. Meirelles exalta redução no déficit e não fala em alta de impostos; Planejamento: previsão de déficit fiscal para 2018 é de R$ 79 bilhões.
• Temer desiste de aumentar impostos para cobrir rombo fiscal. Presidente em exercício determinou que a equipe econômica feche a meta de 2017 sem elevar tributos.
 • Cunha cede a apelos e renuncia à presidência da Câmara. O político frio dá lugar ao ser humano. Eduardo Cunha chora, ao falar da renúncia e da investigação contra sua família. Na mira da Justiça, peemedebista fez pronunciamento ao vivo; Rogério Rosso, possível candidato a suceder Eduardo Cunha. Ele avaliou a decisão do peemedebista como correta. A Câmara estava parada. Nas últimas semanas, houve cancelamento de sessões, idas e vindas, instabilidade. Todos os parlamentares passaram a questionar a credibilidade do comando da Casa. Rosso defende que a eleição seja feita o mais rápido possível. Ele lembra que, no episódio da renúncia de Severino Cavalcanti, Aldo Rebelo foi eleito dois dias depois. A expectativa é que isso se dê até terça-feira. O regimento interno determina que uma nova eleição seja convocada em até cinco sessões.
• Eduardo Cunha: A história fará justiça do ato de coragem de abrir processo de impeachment, retirando o país da gestão criminosa do governo do PT.
• Reunião de líderes antecipa eleição na Câmara para terça. Líderes desautorizam Maranhão e antecipam eleição na Câmara; CCJ adia análise de recurso de Cunha e cassação fica para depois do recesso.
• Tentaram obstruir investigação de Ellen Gracie. A Operação Pripyat contou com o apoio da comissão independente de investigação instituída pela Eletrobras e comandada pela ex-ministra do STF Ellen Gracie - ela também atua nas apurações internas da Petrobras. O MPF informa que a comissão verificou indevida interferência em seus trabalhos, com a destruição de arquivos eletrônicos e influência no ânimo de testemunhas. Por causa dessa obstrução, a comissão recomendou o afastamento de suas funções de Luiz Soares, Edno Negrini, Luiz Messias e José Eduardo Costa Mattos - todos presos ontem. Também foi afastada a procuradora jurídica da Eletronuclear, Denise Sollami, alvo de pedido de condução coercitiva e busca e apreensão. Ela atuou em benefício da defesa de Othon Pinheiro, mesmo sendo a Eletrobras assistente da acusação. Pedro Diniz, o atual presidente, também foi conduzido coercitivamente e afastado do cargo por tentar bloquear as investigações internas contra Othon Pinheiro.
• Ó céus! A presidente afastada Dilma Rousseff prepara uma Carta ao Povo Brasileiro, batizada por ela mesma de programa da volta, na qual vai prometer um novo eixo para o governo, caso retorne ao Palácio do Planalto, e fará críticas à política econômica executada pelo presidente em exercício Michel Temer. Em almoço nesta quarta-feira (6), com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com os ex-ministros Jaques Wagner e Ricardo Berzoini, no Palácio da Alvorada, Dilma foi aconselhada a aumentar o tom dos ataques à condução da economia, sob o argumento de que o chamado Plano Temer levará ao agravamento da recessão.
Trabalho 25 horas por dia. É uma intensidade e uma exposição que eu nunca vivi. Acho que envelheci uns dez anos nos últimos meses. Mas, para a advogada Janaina Conceição Paschoal, 42, todo e qualquer o esforço é válido. É por uma boa causa, diz.
• Ministério da Saúde confirma 1.656 casos de microcefalia no País. Em apenas uma semana, foram 18 novas confirmações do problema que já ocorre em 588 municípios de todo o Brasil.
• Pai de líder do PMDB ganha obras dos Jogos Olímpicos sem licitação. A Prefeitura do Rio contratou sem licitação duas empreiteiras da família do deputado André Lazaroni, líder do PMDB na Assembleia Legislativa do Rio, para concluir obras olímpicas em atraso. Os contratos somam mais de R$ 100 milhões. As construtoras Zadar e a Engetécnica, responsáveis respectivamente pela finalização do Centro Olímpico de Hipismo e do Velódromo, pertencem a Paulo Roberto Moraes, pai do deputado.
• Cúpula da Eletronuclear recebeu R$ 26,4 milhões em propinas de Angra 3, afirma Procuradoria. Só o ex-presidente da estatal, que voltou a ser preso, teria ficado com R$ 12 milhões, segundo investigação.
• Após decisão de decano do STF, Lava Jato vê ameaça. Ministro suspende prisão de condenado e procurador teme que decisão prejudique acordos de delação.
• Polícia Civil do DF indiciou Vagner Freitas, presidente da CUT, por incitação ao crime. Em evento no Palácio do Planalto, ocorrido em agosto de 2015, Freitas convocou manifestantes a pegarem em armas para defender Dilma Rousseff.
• Parlamentarismo - Você sabia... Que com a aprovação da PEC 20A (Proposta de Emenda Constitucional nº 20A, de 1995), que institui o sistema parlamentarista, serão separados o Estado e o Governo? O chefe de Estado será o presidente eleito pelo voto direto, que será o chefe supremo das Forças Armadas, responsável pela unidade, independência, defesa nacional e o livre exercício das instituições democráticas?
• Pimentel patrocina juventude do PT. Fernando Pimentel é um descarado. Ele mandou liberar, sem qualquer processo licitatório, o valor de R$ 100 mil para patrocinar o 12º Congresso da Juventude do PT, marcado para os dias 9 e 10 de julho em Belo Horizonte. É uma doação ilegal e imoral. Enquanto o STJ não autorizar o afastamento de Pimentel do governo, ele continuará delinquindo.
• Ricardo Lewandowski acaba de enviar a Sérgio Moro um ofício cobrando explicações sobre os grampos em que Lula mantém contato com os então ministros Jaques Wagner e Nelson Barbosa. Lewandowski aceitou nova reclamação feita pela defesa de Lula, acusando Moro de usurpar a competência do Supremo ao autorizar as gravações e sua divulgação. Deu resultado a ida de Lula a Brasília.
• Justiça manda BNDES abrir dados de Porto de Mariel, em Cuba. Banco emprestou US$ 682 milhões para obra, que teria influência de Lula.
• Mesmo em férias, o professor da PUC-SP Adilson Dallari, um dos maiores especialistas em direito administrativo do país, enviou o seguinte comentário a O Antagonista sobre a decisão de Dias Toffoli, na semana passada, de soltar PB. A decisão do Toffoli é daquelas que, no jargão jurídico, é chamada de teratológica, ou seja, disparatada, completamente absurda. Para mim, o mais grave não está na fundamentação, mas na decisão em si, na medida em que ele atropelou duas instâncias e concedeu um habeas corpus que não poderia nem mesmo ter sido pedido ao STF. Dallari completa: Não dá para comentar, juridicamente, algo que não chega a ser errado ou que possa comportar alguma divergência técnica. Esse tema está mais para a política do que para o direito.
• TCU suspende assinatura de acordo entre Anatel e Oi. Termo de Ajustamento de Conduta permite troca de multas da operadora por investimentos.
• A rainha da bateria montou cavaletes para o tesoureiro do PT, Paulo Ferreira. Foi o que ele disse à Lava-Jato, para explicar os repasses de 61,7 mil reais a Viviane Rodrigues. De acordo com ele, ela trabalhou como cabo eleitoral de sua campanha para deputado federal. Dos 18 pagamentos realizados para a rainha da bateria, porém, apenas um ocorreu durante a campanha de 2010. Um deles foi realizado antes da campanha, e outros 16 foram realizados depois. Paulo Ferreira vai sambar. Aliás, já sambou.
• A desordem na aviação civil brasileira, em desfavor do consumidor, continua desafiando leis, como a de combate à usura, e até a polícia brasileiras: nesta sexta-feira, um voo entre Araguaína (TO) e Brasília, pela empresa aérea Latam, antiga TAM, custa R$5.680 - e só de ida. A Latam cobra do consumidor brasileiro, por um percurso de 958 quilômetros, o dobro do custo uma passagem Brasília-Paris-Brasília pela Air France. O bilhete na empresa aérea francesa, entre as capitais do Brasil e da França, custa neste momento R$2.468 - ida e volta.
• Ancine: O alerta surgiu nos festivais de cinema europeus após o impeachment: artistas brasileiros foram pressionados pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) a denunciar o golpe. Alguns atenderam, como a turma do filme Aquarius, generosamente apoiado pela Ancine e a Lei Rounet, mas outros recusaram o script. A explicação foi enviada pela oposição ao presidente Michel Temer, na forma de dossiê: a Ancine é totalmente controlada pelo PCdoB, partido aliado de Dilma Rousseff. A informação é do colunista Cláudio Humberto, do Diário do Poder. Manoel Rangel Neto, do comitê central do PCdoB, está no terceiro mandato de duvidosa legalidade. Ele preside a Ancine desde 2005(!). A Ancine gere R$1 bilhão e mais R$200 milhões da Lei do Audiovisual, a Lei Rouanet do cinema, por isso o setor come na mão dessa turma.

• Esperança está em acordo entre bandidos e polícia do Rio. Reportagem da revista The Economist desta semana chama atenção para a crise na segurança pública do Rio de Janeiro a menos de um mês do início dos Jogos Olímpicos. A publicação cita o tiroteio dessa semana no complexo do Alemão, o roubo do equipamento de uma TV alemã, a volta dos arrastões, incluindo bairros nobres da zona sul, e a entrevista do prefeito Eduardo Paes (PMDB) à CNN para traçar um prognóstico sombrio para a primeira Olimpíada da América do Sul. De acordo com a revista, o crime sempre foi associado o Rio de Janeiro, que será de longe a cidade mais violenta e o Brasil o primeiro país não-rico ou autocrático a sediar as Olimpíadas. As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) não foram esquecidas e, apesar de elogiada, a política foi criticada por não entregar as partes mais importantes da ação nas regiões pacificadas: escolas melhores, saneamento básico e saúde. 
• Departamento de Estado reabrirá investigação sobre e-mails de Hillary arquivado pelo FBI. 
 • Chile prende ex-chefe do Exército por mortes na ditadura. Militar aposentado que participou da Caravana da Morte se entregou à polícia, 
• Reino Unido faz balanço de guerra e Iraque avalia consequências. 
• Cinco policiais morrem baleados durante ato contra violência da polícia nos EUA. Suspeito de massacre em Dallas assegura que colocou bombas na cidade. Obama condena massacre em Dallas e promete que a justiça será feita
• EI reivindica ataque contra mausoléu xiita no Iraque que deixou 36 mortos. 
• As dificuldades enfrentadas por bancos italianos com empréstimos de má qualidade são minúsculas comparadas com os problemas de alguns bancos europeus com derivativos, disse o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, na quarta-feira. As ações de bancos italianos têm caído nos últimos dias, com os piores desempenhos entre bancos europeus neste ano, diante de preocupações de investidores sobre como vão lidar com cerca de 360 bilhões de euros em empréstimos de má qualidade e calotes. 
• Há 75 anos forças americanas desembarcavam na Islândia. Tropas dos Estados Unidos juntavam-se aos aliados para lutar contra o Eixo. 
• EUA recomendam evitar viagens à Venezuela por escassez e roubos. Alerta do Departamento de Estado é de longo prazo, e não temporário. 

Mandar de volta a carta de Caminha.
Não dá para calcular quando a corrupção começou no Brasil. Há quem suponha tenha sido com a carta de Pero Vaz de Caminha, que tentou descolar a nomeação do seu genro. Tanto faz, pois a verdade é que as vigarices começaram cedo. Houve, porém, um divisor de águas marcando a progressão. Foi a Nova República. Com a tragédia de Tancredo Neves, começaram a se desfazer a esperanças de ficarmos apenas naqueles percentuais tidos como naturais em quaisquer países ou regimes.
Melhor não fulanizar, mas ressalta-se os dois anos e meio em que Itamar Franco foi presidente e sua intransigente luta contra os corruptos. Depois, e até agora, a roubalheira só fez aumentar. Espraiou-se por todas as atividades nacionais, atingiu setores públicos e privados, contaminou todas as instituições, tornou-se exemplo para as sucessivas gerações que foram assumindo responsabilidades de comando. Com as exceções de sempre, é claro, mas atingindo o Congresso, o Executivo e o Judiciário. O empresariado, quase sem faltar categorias, as direções sindicais, as organizações religiosas, os grupos filantrópicos e tudo o mais que se pensa.
Bem que o poder público se esforça para investigar, julgar e punir quantos se dedicam a essa prática tão disseminada na sociedade quanto cômoda, mas pelo jeito não adianta.
Fica em aberto a conclusão: qual a saída para reduzir ao mínimo esse deletério comportamento que nivela a nação pelo que tem de pior? Polícia Federal, Ministério Público, Receita Federal? Quando não se contaminam, acabam sufocados pela avalancha de corruptos postados ao seu redor.
Até mesmo fica insuficiente recomendar cadeia para quantos aderem à corrupção. A maioria escapa e ainda se vangloria. Aumentar as penas para os forem bissextamente condenados? Um palito de fósforo diante da cratera de um vulcão. Dar de ombros e julgar a corrupção inerente à Humanidade equivaleria apenas a estimular bandidos e vigaristas. Quem quiser que opine, porque solução não há. Talvez apenas devolver a carta de Caminha aos portugueses... (Carlos Chagas) 

1% de retorno excepcional.
Perguntando a qualquer analista político bem informado, você ouvirá que o impeachment definitivo de Dilma é coisa certa, matemática.
O Antagonista publicou hoje a contagem de Temer.
Não são mais do que 18 votos perdidos.
Os verdadeiramente indecisos são apenas três: Renan, Férrer e Otto Alencar.
Todos os demais darão adeus a Dilma Rousseff.
Concluímos, então, que a probabilidade hoje está em 99%.
O outro 1% fica para o santo da Lava Jato.
No mercado, porém, as contas se mostram bem diferentes.
Os ativos de risco no Brasil se comportam ainda duvidosos.
Mexem-se como se o impeachment definitivo de Dilma fosse algo possível, mas não decretado.
Digamos, uma chance em torno de 70% dada pelo mercado.
A distância entre 70% e 99% significa, em termos financeiros, muito mais do que 29 pontos percentuais.
Significa forte alta da Bolsa, queda dos juros e fôlego adicional do real contra o dólar.
Talvez estejamos diante de uma das maiores distorções entre a realidade política e a desconfiança econômica.
Normalmente é o contrário: a política se deixa desconfiar e a economia é quem dá conta do choque de realidade.
Investir em 1% de retorno nunca valeu tanto. (Rodolfo Amstalden) 
Andar na Linha: um Grande Desafio no Brasil.
Cada povo tem o governo que merece. Ouvir essa assertiva é bastante comum quando o assunto envolve a corrupção generalizada que assola nossa classe política, especialmente com o advento das redes sociais e seu potencial de difundir os repulsivos pormenores dos cada vez mais frequentes escândalos desenredados pelos órgãos de investigação e imposição da lei. Levando-se em conta a disposição do brasileiro médio em descumprir normas, como furar filas ou burlar o Imposto de Renda de Pessoa Física, costuma-se inferir que, na verdade, os agentes políticos que desviam bilhões do orçamento público não são muito diferentes de nós, pessoas comuns, mas apenas tiraram proveito de oportunidades as quais, em seu lugar, também capitalizaríamos em proveito próprio. Quer dizer, portanto, que somos todos farinha do mesmo saco? É difícil concordar com tal desvario, especialmente porque fazê-lo implicaria em aceitar que somos todos possuídos por espíritos vigaristas, e que nossa cultura jamais permitirá que possamos viver um dia sem reportagens dando conta de suborno e propina no noticiário. Prefiro ponderar que ocorre justamente o oposto: o exemplo ruim vem de cima, contaminando toda a sociedade e desmotivando o cidadão a observar a legislação pátria.
Pulverizar a responsabilidade por um crime entre todos os membros de uma coletividade é uma prática bastante disseminada no Brasil. Quando um bandido mata uma pessoa em um latrocínio, sempre surgem vozes bradando que a culpa por aquele delito pertence a todos nós, na medida em que permitimos que pessoas de baixa renda vivam sem o mínimo necessário para que usufruam de uma vida digna. Sem nem aprofundar-me no mérito de que tal argumento representa, no mínimo, preconceito contra os despossuídos (e cria a sensação, no homicida, de que ele tem o direito de puxar o gatilho), indago: então a culpa por atos de corrupção também deve ser dividida entre todos os eleitores que escolheram determinado representante desonesto? Essa mentalidade coletivista deturpa o fato de que a pena por um crime não deve passar da pessoa do condenado, e apenas contribui com a sensação de impunidade vigente em nosso país. Votos obtidos junto a eleitores de boa-fé (sejam eles 54 milhões ou quantos forem) não podem ser usados como salvo conduto para transgressões, ou mesmo para compartilhar a autoria de malfeitorias.
Se assim não fosse, então o que se poderia esperar dos cidadãos do Paraná, por exemplo, nas eleições estaduais de 2014, notadamente para o cargo de Governador? A eles foi apresentado o seguinte cardápio: Gleisi Hoffmann - indiciada pela Polícia Federal, juntamente com seu marido Paulo Bernardo (que chegou a ser preso) por corrupção na Lava Jato; Roberto Requião - envolvido nos crimes apurados pela operação Custo Brasil; e, finalmente, o escolhido Beto Richa - contra quem o Superior Tribunal de Justiça autorizou abertura de inquérito para investigar suposta relação com esquema de corrupção (ele teria recebido doações ilegais). Qualquer um dos candidatos acima elencados desonraria as atribuições de chefe do Executivo estadual. Faz sentido, pois, acusar os paranaenses de terem votado errado naquela eleição, desviando o foco, desta forma, do verdadeiro problema (criminosos possivelmente saindo incólumes após lesarem tantas pessoas)? Será que os Venezuelanos merecem estar vivendo entre a inanição e o caos por terem votado em Hugo Chávez no início dos anos 2000? O caso deles é muito pior, mas a mesma lógica pode ser aplicada para absolver nossos (mais) sofridos vizinhos do Norte.
Este, aliás, é um dos principais divisores de água entre o baixo clero e os criminosos de colarinho branco: nossas ações eventualmente em desacordo com as leis e os costumes não possuem potencial agressivo contra um grande número de vítimas. Se alguém fura uma fila, não consigo imaginar os prejudicados sofrendo mais do que apenas indignação. Agentes políticos, a seu turno, são capazes de, por meio de simples negociatas ou canetadas, causarem padecimento a milhões de pessoas, com efeitos prolongados indefinidamente, e transfigurados em diversas facetas (desemprego, insegurança, fome, saúde precária, educação deficitária). As cominações penais, entretanto, costumam guardar relação inversamente proporcional com os prejuízos causados: políticos envolvidos em esquemas de apropriação de verbas estatais e que venham a passar algumas temporadas atrás das grades constituem exceção a um sistema que, normalmente, não pune tais criminosos com a severidade necessária para que seus pares passem a acreditar que a retidão na vida pública vale a pena. Muito ao contrário - Carlinhos Cachoeira às gargalhadas dentro do camburão da Polícia Federal não me deixa mentir.
Ora, se o custo de descumprir a lei é relativamente baixo, fica mais fácil entender porque os brasileiros que preferem andar na linha são frequentemente tachados de otários. Neste cenário, o macete passa a valer mais do que o conhecimento, e o bizurado é capaz de auferir melhores retornos do que o trabalhador diligente. Se o Prefeito não está nem aí para a minha rua (a deixou virar um queijo suíço e embolsou os recursos para sua recuperação), por que eu, indistinto sujeito, deveria me comprometer com sua limpeza, por exemplo? Constitui uma máxima das forças armadas que o comandante é o espelho da tropa. Ou por outra: uma mesma tropa pode se comportar de maneiras totalmente diversas sob diferentes comandos. Será mesmo que nosso povo seria tão despreocupado em seguir as normas se vislumbrasse bons exemplos vindo de cima - de seus comandantes?
Vale dizer: e se o brasileiro pudesse experimentar a sensação de que, uma vez colaborando com todo o sistema legal, este lhe recompensaria regiamente, ao invés de puni-lo com a percepção de que todos os que burlam este sistema estão em vantagem sobre ele? Brasileiros que alugam carros em viagens aos Estados Unidos e ao Canadá, e dirigem como verdadeiros lordes (ao passo que, em nosso país, conduzem como o personagem Dick vigarista), ajudam a elucidar esta questão: o ambiente condiciona, e muito, nossas condutas. Outra evidência disso surge quando se propõe o exercício de reflexão invertido: o que acontece quando estrangeiros que residiam em países de cultura mais submissa às normas vem morar no Brasil por um período prolongado? Sabemos do que a singular capacidade de adaptação do ser humano às condições externas é capaz: é claro que esses outrora lordes irão, gradativamente, perder a consideração e o respeito pelo sistema - inclusive em se tratando de pessoas jurídicas, que vem para cá fechar negócios sabedoras de que precisam jogar o jogo de acordo com nossos hábitos pouco salutares, ou nada feito.
Contribui sobremaneira para que o arcabouço jurídico de nosso país seja solenemente ignorado por muitos brasileiros o excesso de regulações e leis. O estapafúrdio número de parlamentares das três esferas do poder querem justificar sua existência, e, neste intuito, passam a legislar em escala industrial - com o agravante de que, enquanto muitos projetos para a elaboração de legislações importantes ficam esquecidos em gavetas, verdadeiros escárnios com o cidadão são propostos e aprovados. Tem como culpar alguém por não levar a sério um Estado que estabelece a obrigatoriedade de uso de determinado tipo de extintor de incêndio automotivo, e meses depois muda de ideia e revoga tal determinação, por exemplo? Não à toa, muitas leis no Brasil não pegam, caindo em descrédito e não surtindo nenhum efeito prático na vida de ninguém. Aliás, o único resultado desta overdose de leis insensatas é indicar ao brasileiro que ele não deve esquentar muito a cabeça com as normas.
O brasileiro, então, passa a viver em conformidade com um conjunto de regras paralelo ao Estado de Direito, mais adequado a sua realidade (totalmente desconsiderada quando da confecção das leis) e que lhe permite viver melhor - ao menos levando em conta os resultados de curto prazo. Até mesmo moedas locais têm sido adotadas, como decorrência natural do sentimento de não pertencer ao grupo de beneficiários de tudo aquilo que sai de Brasília, e de não confiar nas resoluções emanadas do poder público.
Vejamos como até mesmo no futebol tal fenômeno se manifesta: o famigerado fair play, onde o jogador adversário deveria, em tese, jogar a bola para fora do campo sempre que outro jogador (ainda quede outro time) precisasse de atendimento médico. Como a FIFA, entidade máxima do futebol mundial, e cuja reputação não faz inveja a nenhum político brasileiro, sempre omitiu-se de delegar ao árbitro do jogo esta responsabilidade de paralisar a partida nestas circunstancias (ao contrário, ela estimula o fair play), muitos jogadores, naturalmente, passaram a usar em proveito próprio tal possibilidade, fingindo lesões e causando desentendimentos. Ou seja, não existe vácuo no poder: se a autoridade designada não souber resolver um conflito, ele será solucionado por aqueles afetados por este conflito - da forma que melhor lhes convier, por certo. Essa tendência a autotutela também é percebida quando assaltantes são amarrados a postes, constituindo demonstração clara de descrença no Estado e em sua capacidade de promover a ordem.
Constatar que o brasileiro tem encontrado pouca alternativa senão descumprir determinadas leis não visa justificar o desrespeito às normas, mas sim explicar que, como bem ressaltado no clássico filme Jurassic Park, A vida sempre encontra um meio - e o povo também: se o governo o coloca contra a parede, ele vai reagir, tal qual manda o instinto de qualquer animal. E essa reação, no mais das vezes, é extremamente prejudicial à sociedade como um todo. Se apenas determinados empresários amigos do Rei são beneficiados com a regulação estatal, os demais empreendedores buscarão meio alternativos de sobreviver à carga tributária escorchante, inclusive sonegando impostos - infração legal que irá importar em perdas para todos os destinatários de recursos públicos.
Antes que alguém ventile a hipótese de reforma eleitoral como solução para o problema aqui aventado, enfatizo que o destino da maior parte do dinheiro público roubado não são campanhas eleitorais, e sim contas na suíça (ou bolsas e sapatos de Paris). Instituir o voto distrital, o recall, o Parlamentarismo, seriam todas medidas que contribuiriam, sem dúvida, para o saneamento do sistema representativo, mas somente a efetiva punição de todos os envolvidos em corrupção pode representar uma verdadeira mudança de paradigmas.
E, nesse intuito, é providência essencial reduzir o tamanho do Estado brasileiro. É piada de mau gosto acreditar que os órgãos de controle externo irão, de alguma fora, reunir condições para fiscalizar tantos contratos públicos, celebrados Brasil afora a cada minuto, enquanto estou escrevendo este texto, inclusive. Se a ocasião faz o ladrão, por que oferecer tantas ocasiões aos agentes políticos? Não é crível que um cachorro vá postar-se diante de uma costela assada e não devorá-la, a não ser que tenha muito receio das consequências, e/ou que a carne esteja fora de seu alcance. E ambas as diligências, no caso em tela, são indispensáveis.
A educação (tanto a formal quanto aquele fornecida em casa) também deveria proporcionar ao brasileiro condições de entender que, na vida em sociedade, não é recomendável pensar apenas em si mesmo, e que agir como se estivéssemos em uma bolha, normalmente, faz a bolha estourar. Mas convenhamos que é missão quase hercúlea para um professor persuadir um aluno a seguir regras quando só o que o jovem vê na TV é roubo e impunidade, bem como é tarefa quase inexequível convencer um filho das vantagens de ser honesto no Brasil atual (haja cara-de-pau). Ou seja, quando a teoria que se pretende lecionar encontra-se tão afastada da prática diária, tal ensinamento afigura-se como pura abstração - e entra no ouvido direito e sai no esquerdo.
Será que nós, brasileiros, merecemos viver no caos urbano, sob o pretexto de que somos um povo de malandros e aproveitadores? Toda boa pergunta merece uma boa resposta, e, muito embora não seja o caso desse questionamento, eu respondo: Não! Tenho plena convicção que este país tem jeito, e que, dentro de algumas décadas, nosso povo pode vir a estar irreconhecível, cumprindo as leis e tomando atitudes pensando no coletivo, e não apenas objetivando lograr vantagens para si próprio. E seria um ótimo pontapé inicial se o exemplo viesse de cima - ou do Planalto Central. (Bourdin Burke) 
Nunca se justifique. Os amigos não precisam e os inimigos não acreditam.

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