22 de jan. de 2016

Crise! Que crise nada, estamos no controle...

Dólar vai a R$ 4,16 e bate recorde. Moeda norte-americana atinge maior valor em relação à brasileira desde a criação do Plano Real, em 1994. Analistas do mercado avaliam que a decisão do Copom de não alterar a taxa de juros afeta a credibilidade do Banco Central
Dilma reafirma compromisso de reduzir inflação. Presidente voltou a declarar que controle da inflação e equilíbrio do Orçamento são metas do governo
Sentados a espera! Zika vírus: Pesquisadores vão desenvolver soro que pode ficar pronto em 3 anos. Cientistas do Instituto Vital Brazil e da Universidade Federal do Rio de Janeiro trabalham para que soro proteja os pacientes. 
• PT tira Dilma e Lula das inserções na TV. A atual presidente e seu antecessor foram alvos de panelaços quando apareceram no horário reservado ao partido em 2015. Cúpula pretende centrar próximos programas na defesa da sigla. Comerciais do partido vão ao ar nas duas primeiras semanas de fevereiro.
Estimativa para inflação aumenta com Selic estável. Títulos do governo sinalizam alta ainda maior de preços no próximo ano. Mesmo mantendo juros, é improvável que governo consiga expandir financiamentos no país. 
Há evidências de ingerência política na decisão do BC. Para ex-presidente do banco, não houve nada que justificasse mudança. 
Odebrecht busca atrasar Lava Jato, rebate procurador. Para Carlos Fernando Lima, defesa produz ficção ao atacar transcrição. 
• Empresa ligada à OAS emprega filha de Wagner. Ela é gerente de RH da Enseada, que tem a empreiteira como acionista. 
País tem menos 1,5 mi de empregos com carteira, pior nível desde 92. O setor agropecuário foi o único que apresentou aumento dos postos de trabalho (9,8 mil) e todas as regiões do país apresentaram desaceleração no nível de emprego com carteira assinada, cabendo a São Paulo, Minas e Rio os recordes em perdas. 
Arrecadação do governo registra queda de 5,62% em 2015. Brasileiros pagaram R$ 1,221 trilhão de tributos no ano passado. Corrigida pela inflação, a arrecadação chegou a R$ 1,274 trilhão, o menor resultado desde 2010. 
Dados divulgados pela Agência Nacional de Telecomunicações, a Anatel, nesta semana, mostram que a TV por assinatura brasileira perdeu 500 mil assinantes de julho a novembro. De acordo com as informações fornecidas pela agência, essa é a pior crise enfrentada pelo setor nos últimos 16 anos. 
• Atividade econômica tem contínua e intensa piora, mostra Monitor do PIB da FGV. O último dado divulgado pelo governo mostra retração, no terceiro trimestre de 2015, de 1,7% em relação ao mesmo período do ano anterior
• Em decisão, juiz da Paraíba diz que cotas raciais são inconstitucionais. É fundamental o recrutamento dos mais capacitados, independentemente de origem, raça, sexo, cor, idade, religião, orientação sexual ou política, entre outras características pessoais, afirma o juiz
Denúncias de discriminação religiosa crescem 70% e batem recorde em 2015. 
• Presidente do Tribunal de Contas do DF é ameaçado de morte. Ameaça está ligada a antigo processo em que militares simulavam mudanças para locais distantes de Brasília, após passar para a reserva, como forma de receber Indenização de Transporte, o que levou à abertura de mais de 800 ações judiciai
• Aeronautas podem paralisar atividades na próxima segunda. Categoria aprovou ontem (20) estado de greve por conta dos impasses nas negociações da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) desses profissionais para o biênio 2015/2016
• Polícia Federal interdita poluidoras que atuam no Complexo de Tubarão, no ES. Ex-governador que já interditou as empresas Vale e CST (atual ArcelorMittal) afirma que sua convicção de que os poluentes lançados no ar pelas empresas estavam em níveis insuportáveis foi formada ainda como médico, antes de se tornar político. 

Exigência fez Brasil não aceitar presos de Guantánamo. Americanos queriam que os ex-prisioneiros fossem monitorados. 
Em Davos, Argentina vira exemplo ao Brasil. Após 12 anos longe do fórum econômico, país recebe holofotes com Macri
Kremlin classifica como piada inquérito sobre morte de ex-espião da KGB. Inquérito britânico afirma que presidente russo provavelmente autorizou envenenamento de Alexandre Livtinenko em 2006. 
• Supremo da Venezuela aprova decreto de emergência econômica. Medida dá poderes especiais ao presidente Nicolás Maduro; Executivo poderá dispensar alguns trâmites burocráticos. O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela declarou como constitucional o Decreto de Emergência Econômica ditado pelo presidente Nicolás Maduro por 60 dias para afrontar a atual crise que assola o país. 

A alma do outro mundo.
Décadas atrás, para assustar as criancinhas, os mais velhos ameaçavam com a aparição das almas do outro mundo. Tratava-se de forma mais amena do que lembrar da existência de lobisomens, vampiros, mulas-sem-cabeça, cucas, zumbis e penduricalhos.
Pois acaba de aparecer outro tipo de alma, até prova em contrário, deste mundo mesmo. É a viva alma que neste país não tem mais honesta do que a dele. Assim definiu-se o Lula em encontro com blogueiros, quarta-feira. Pretensão igual só no almanaque dos santos. Situou-se no mesmo patamar da Polícia Federal, do Ministério Público, dos Sindicatos e das Igrejas Católica e Evangélica. Sua alma, motivo de orgulho, equivale ao grande prêmio nas delações premiadas. Ganha o delator que conseguir citá-lo mais vezes.
O Lula saiu em defesa dos companheiros processados, condenados e presos, ainda que referidos tenham sido apenas João Vaccari Neto e José Dirceu. Há ansiedade na longa fila formada atrás deles, também ávidos de uma solidariedade até agora invisível.
Direito de defender-se, e aos condenados, o ex-presidente possui. Como também de processar jornalistas, mesmo tornando-se agressão atacar nossa dignidade profissional. Até de comparar a roubalheira verificada no PT com a de outros partidos. O que não dá para aceitar é a ausência de alma mais honesta do que a dele. Afinal, sua performance na presidência da República, e depois, vem sendo objeto de referências nas delações premiadas. Apartamentos milionários, sítios, viagens, negócios e palestras subsidiadas por empreiteiras e governos estrangeiros, filhos endinheirados sem explicação da origem, amigos privilegiados, auxiliares na cadeia - tudo merece ser examinado à luz da honestidade da alma, se não for do outro mundo.
Vai ficando claro que o Lula se defende mais do que devia ou podia. Suas observações beiram a incerteza, ao acentuar que perdemos a nossa gente, junto com reprimendas à sucessora. Trocar Joaquim Levy por Nelson Barbosa, para ele, dá a impressão de substituir seis por meia dúzia. E sua candidatura em 2018 parece a única saída para o PT.

O Trabalho e a Propaganda
Nos anos setenta a propaganda do regime militar contagiava os Estados através do milagre brasileiro. Os governadores, mesmo impotentes e subservientes, buscavam imitar o modelo nacional. No Paraná desenvolveu-se intensa campanha que começava na fronteira com Santa Catarina. O motorista que chegava deparava-se com imensa placa de promoção onde se lia: Você está entrando no Paraná. Aqui se trabalha! 
Os catarinas não gostaram e dias depois apareceu outra placa, maior e em sentido contrário: Você está entrando em Santa Catarina. Aqui sempre se trabalhou... (Carlos Chagas) 

Você sabia? Estamos pagando as contas da campanha!
Sempre que o sujeito aparece como premido por alguma investigação ou, mais grave ainda, como premiado na delação de alguém, a saída é quase sempre a mesma: trata-se de regular contribuição para despesas de campanha. Tudo de acordo com a regra e aprovado, direitinho, pela Justiça Eleitoral.
Estamos tão habituados a isso quanto com a conversa daqueles que jamais estão a par de qualquer irregularidade, ainda que tenham a seu dispor multidão de servidores e instituições regiamente pagos para tarefas de fiscalização e controle. Tais autoridades nunca se surpreendem porque, mesmo depois de informadas, continuam sabendo coisa alguma. Afinal, mais de duas dezenas de ministros e ex-ministros da presidente estão sob investigação.
Aliás, cadê a faxineira? Alguém despediu a faxineira?
Tão verdadeiro quanto o que acabo de afirmar é algo de que poucos se dão conta. Refiro-me ao fato de estarmos, nós, os pagadores de impostos, a sociedade como um todo, pagando caríssimo as contas da vitória eleitoral conquistada pelo governo da União em 2014. O aumento da inflação, a recessão, o desemprego, o déficit nas contas públicas, a decadência da qualidade dos serviços prestados, o descrédito do país no mercado internacional, tudo é parcela da mesma conta.
O governo, para criar um clima de euforia na sociedade, injetou droga pesada no subconsciente coletivo. Estourou todos os caixas do setor público. Queimou centenas de bilhões de reais e de dólares e o país se enterrou fundo na toca do coelho falante onde era encenado o país das maravilhas. E o diabo foi sendo feito.
Soube-se, por fim, que a toca era apenas isso, que o buraco era mais em baixo e que havia centenas de bilhões a serem pagos. Eis por que, ao custo dos serviços que não se tem e aos males de uma economia em crise, somam-se os valores financeiros referentes à elevação da carga tributária. Há um pacote de medidas em gestação. Sempre há um pacote de medidas em gestação quando governos irresponsáveis gastam mais do que arrecadam. Recentemente, depois de deixar claro que não haverá correção da tabela do IR (o que representa elevação iníqua da alíquota de contribuição) o Leão passou a cogitar de uma faixa adicional de 35% para o Imposto de Renda.
Tudo isso e mais o que a criatividade fiscal venha a produzir nos meses vindouros pode ser enquadrado na rubrica geral contas de campanha. E se assim como eu, diante dessa constatação, você se sente otário, tirado para bobo da corte brasiliense, saiba que tem a minha solidariedade. Afinal, a conta que estamos pagando foi criada para eleger o governo e o Congresso que temos. (Percival Puggina, membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor) 

Cruzadas em torno de Patmos.
Na época longínqua em que me sobrava tempo para passatempos, transitei muito pelos labirintos de palavras cruzadas, enquanto meus colegas discutiam futebol. Melhor dizendo, perdiam o tempo nessas discussões, tão intermináveis quanto inúteis e insuportáveis. Eram passatempos, tanto o deles quanto o meu, mas qual dos dois proporciona maior progresso cultural? Fazendo uma avaliação retrospectiva lá e cá, devo concluir que o resultado pesa largamente em favor das minhas opções. Não me refiro a desproporções tipo gigante versus pigmeus, estou apenas aludindo à qualidade da cultura que uns e outros adquirimos. Com um pequeno exemplo, estou certo de remover também as suas dúvidas.
Apenas para assegurar que você e eu estamos percorrendo os mesmos caminhos, lembro-lhe que em palavras cruzadas você anota primeiro as palavras fáceis, ou seja, as que você conhece bem e cabem no espaço correspondente. Concluída esta primeira fase nas horizontais, depois nas verticais (estas já ficaram facilitadas), sobram palavras incompletas, com porcentagem maior ou menor de letras preenchidas. Você reexamina então os enunciados das palavras incompletas, e tenta completá-las. Para a terceira fase sobram geralmente poucas palavras, às quais você dedicará maior esforço. Algumas são palavras desconhecidas, ou os dados conhecidos não permitem arriscar. Vamos a um exemplo, com o qual já entro no meu tema de hoje.
Para a última fase, sobrou a palavra correspondente ao enunciado ilha grega, na situação seguinte: PA_ _OS. Se você desconhece nomes das milhares de ilhas gregas, nem se ocupou com a palavra na primeira fase. Já na situação atual, as duas letras faltantes podem estar entre 529 duplas possíveis com as 23 letras do alfabeto. Se você sabe, por exemplo, que São João Evangelista escreveu o Apocalipse na ilha de PATMOS, estará resolvido o seu passatempo do dia, embora seja sempre possível outra ilha desconhecida (para mim, pelo menos) com letras diferentes de TM.
O grau de facilidade para alcançar a solução pode variar muito, em função da cultura adquirida. Quando o esforço cultural se limitou a assuntos importantíssimos - por exemplo, os dribles e gols futebolísticos do momento, as celebridades musicais fabricadas pela mídia, os profundos temas filosóficos de botequins e novelas, as piadas de pocilga - o tempo para resolver as cruzadas terá proporção com o que não foi dedicado à verdadeira cultura.
Esse confinamento cultural me faz lembrar um conto de Malba Tahan sobre o sábio da efelogia. Era um ex-prisioneiro político que encontrara na cela um único volume de enciclopédia, correspondente à letra F. Sobrava-lhe tempo, e dedicou grande parte dele a ler e reler esse volume. Depois de cumprir a pena e refazer amigos, exibia sua cultura vastíssima, no entanto limitada a palavras raras sobre as quais dissertava; e cuja inicial era sempre F. Há sumidades assim, limitadas ao F de futebol; e ao silêncio forçado e envergonhado, quando o assunto é outro.
Patmos é uma ilha pequena do Mar Egeu, de pouca importância cultural e econômica. Sua importância resulta de ter vivido lá São João Evangelista, exilado após sair milagrosamente vivo e ileso de uma caldeira com óleo fervente. Na ilha, dedicou parte do seu tempo livre para redigir o Apocalipse. Só este fato já me basta para venerar Patmos à distância. Não falta importância histórica e cultural em ilhas gregas maiores ou menores. Por exemplo, nosso vocabulário é abundante em referências a algumas dessas ilhas ou suas cidades: Lacônico (Lacônia), espartano (Esparta), beócio (Beócia), arcádia (Arcádia), lesbianismo (Lesbos), cretino (Creta), sibarita (Síbaris), Rodes (Colosso), coríntio, Corinto (Corinthians, viu!?). Uma cidade lá se chama Jacinto, mas é melhor você e eu não nos preocuparmos com ela...
Não vou insistir nas minhas avaliações sobre discussões futebolísticas, já bem definidas e definitivas, mas quero avaliar o grau de influência das palavras cruzadas na formação cultural de uma pessoa. Esse passatempo sempre me foi indicado como instrutivo. Mas se eu tomo um exemplo como esse de Patmos, devo rebaixar alguns graus nessa propalada utilidade. De fato eu consigo completar a palavra, quando ela aparece nas cruzadas. Mas terá havido algum acréscimo de conhecimento valioso à minha cultura, depois que consegui formá-la com segurança? Basta eu saber que existe uma ilha grega com esse nome? É claro que serviu-me para rememorar uma palavra meio perdida nos labirintos da memória, mas eu já conhecia a palavra e algo mais sobre ela, tanto que pude incluir com segurança as duas letras faltantes. O conhecimento veio antes de resolver o problema, não veio por tê-lo resolvido.
Mais um detalhe importante. Quando completo todas as palavras, limito-me a declarar vitória. Salvo em casos muito excepcionais, não procuro esclarecimento adicional sobre palavras desconhecidas que surgiram, e o próprio passatempo não me fornece mais dados. Basta isso para dizer que aprendi mais algumas palavras? Não me parece, pois a verdadeira cultura vai muito além disso. É evidente para mim, no entanto, a superioridade deste passatempo quando o comparo à discussão sobre futebol. Meus passatempos incluíram boa quota de cruzadas, e ainda transito por elas esporadicamente. Mas não incluo entre as minhas culpas a de ter perdido sequer um minuto da vida discutindo futebol. (Jacinto Flecha) 
Se você destrói um bem público na hora, você é vândalo. Se você deixa destruir aos poucos, é político. (Alessandro Martins)

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O teto vai ruir...

Façamos as contas ao próximo exercício. Você aí que ainda nem recebeu os míseros trocadinhos do patrão e ouve a mulher querendo comprar comi...