29 de nov. de 2015

Inércias governamentais...

O desastre e o rio... 
. Vejam abaixo as opiniões do professor de Engenharia Costeira da Coppe/UFRJ, Paulo Rosman, sobre o desastre sem precedentes que afetou a Bacia do Rio Doce e as perspectivas de sua recuperação.
. Vamos torcer para que ele esteja certo em suas análises e que as mesmas não sejam apenas mais um discurso do Sistema!... 
. Há dezenas de perguntas sem respostas, sobre essa tragédia. A Marinha brasileira, com um sem número de renomados pesquisadores e cientistas, está ancorada na foz do Rio Doce, em Regência, com seu novíssimo navio de pesquisas e estudos, para tentar responder às perplexidades e dúvidas da população brasileira. 
. E é oportuno lembrar que o grande fotógrafo Sebastião Salgado, que realiza uma obra excepcional de preservação e de reparação da natureza, nas cercanias de Aimorés, apresentou à sra. Dilma um Projeto de recuperação das 360.000 (ou 370.000?) nascentes que abastecem o Rio Doce. . Até hoje está esperando resposta...

. O fotógrafo Sebastião Salgado entregou à presidente Dilma Rousseff, em Brasília, uma proposta de recuperação do Vale do Rio Doce após o desastre das barragens da mineradora Samarco na região. Nascido em Aimorés - cidade do leste mineiro afetada pela catástrofe -, o fotógrafo conduz trabalhos de recuperação ambiental na região desde 1998. (Agência Estado)
. Trabalhamos na região há muito tempo e temos um projeto de recuperação de todas as nascentes do Rio Doce, aprovado pelo BNDES, mas parado por causa da restrição orçamentária. Temos cerca de 377 mil nascentes no Rio Doce e precisamos recuperar ao menos 300 mil delas, a um custo que varia entre R$ 12 mil a R$ 15 mil por propriedade rural, disse Salgado. (O Estado de S. Paulo)
. Quem sabe, agora, com a tragédia presente, o governo volta seus olhos e ações para essa iniciativa que só depende de vontade política, para ser implementada!
. Vamos aguardar... (Márcio Dayrell Batitucci)
Tido como morto, rio Doce ressuscitará em cinco meses.
. Embora esteja considerado atualmente morto, o rio Doce, que recebeu mais de 25 mil piscinas olímpicas de lama proveniente do rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana (MG), vai ressuscitar em até cinco meses, no final da época de chuvas, em abril do próximo ano.
. A afirmação é de Paulo Rosman, professor de Engenharia Costeira da Coppe/UFRJ e autor de um estudo encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente para avaliar os impactos e a extensão da chegada da lama ao mar, ocorrida no último domingo (22) e que afeta a costa do Espírito Santo.
. Embora especialistas tenham divulgado previsões de danos catastróficos, que incluiriam danos à reserva marinha de Abrolhos, no sul da Bahia, e um espalhamento da lama por até 10 mil m², Rosman afirma que os efeitos no mar serão desprezíveis, que o material se espalhará por no máximo 9 km e que em poucos dias a coloração barrenta deve se dissipar.
. Para ele, há três diferentes cenários de gravidade do desastre e de velocidade de recuperação. No alto, onde a barragem se rompeu, próximo ao distrito de Bento Rodrigues, deve durar mais de um ano e dependerá de operações de limpeza dos escombros e de um programa de reflorestamento. Para ele, a sociedade e os governos mineiro e federal precisam cobrar de Vale e BHP Hillington, donas da Samarco, o processo de reflorestamento e reconstrução ambiental, de custo insignificante para as empresas.
. Ele diz que, na maior parte do percurso do rio Doce, as próprias chuvas devem limpar os estragos e os peixes devem voltar ao rio no período de cinco meses, e, no mar, a diluição dos sedimentos deve ocorrer de forma mais rápida - até janeiro do próximo ano.
. Ao mesmo tempo, o especialista considera inaceitável que o governo permita que as pessoas voltem a morar nas regiões afetadas e que seria criminoso não retirar os outros povoados que se encontram nas linhas de avalanche de outras barragens.
A entrevista:
. Nos últimos dias, especialistas, ativistas, moradores, pescadores e indígenas têm repetido que o rio Doce está morto. O senhor diz que ele vai ressuscitar. Como isto deve acontecer?
. Paulo Rosman - Eu vou repetir um chavão muito conhecido: o tempo é o senhor da razão. Há a visão quantitativa e fria do pesquisador, do cientista, e a visão emocional e por vezes desesperada do morador, do pescador e do índio. Os dois estão expressando as suas razões. Nenhum dos dois está certo ou errado.
. No caso da ciência as coisas são mais factuais, quantitativas, mais numéricas. No caso do indígena, ele constata e sofre com a morte do rio. A diferença é que o rio está morto neste momento, é verdade, mas ressuscitará muito rapidamente, e eles vão poder comprovar isso.
. Há muitos exemplos de acidentes muito mais graves e mais sérios do que este da barragem de Mariana. Veja a erupção vulcânica do monte Santa Helena, nos Estados Unidos (em 1980). Foi tudo devastado e destruído, numa área imensamente maior. Você vai lá hoje e vê que os animais voltaram e a mata voltou.
. Para fazer a conta, você tem que pegar o peso da lama e dividir pela massa específica dessa lama. Se neste momento eu tenho 4 kg/m³ de água e for dividir pela massa da lama, dá mais ou menos 1,3mm. Então isso significa que se esses sedimentos todos se depositassem no fundo do rio formariam um tapete de 1 mm de espessura, o que nem vai acontecer, porque a correnteza vai levar.
. As fortes chuvas entre novembro e abril lavarão o rio Doce, num processo natural. Digo isso baseado em quantidades de sedimentos, em conhecimentos de processos sedimentológicos, na dinâmica de transporte desses sedimentos pelas correntes dos rios, dos estuários, das zonas costeiras. Então essas coisas são relativamente rápidas, a natureza se adapta, se reconstrói, se modifica.
. Como o senhor avalia a mortandade e o retorno de peixes ao rio, posteriormente? E como responde a especialistas que avaliam que a recuperação da área e do rio pode levar mais de dez anos?
. A onda de lama matou os peixes, mas o volume, pelo que eu vi publicado nos jornais, representa uma quantidade muito baixa. A não ser que tenha havido algum erro de cálculo, foi divulgado que morreram 8 mil kg de peixes no rio Doce. Veja, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro: quando há uma baixa mortandade, estamos falando em 70 mil peixes, mas este número pode chegar a 200 mil, e depois sempre há o retorno. A gente sabe que não demora muito para que a Lagoa encha de peixe de novo.
. Quanto aos comentários de especialistas citados, eu diria apenas que eu espero que eles estejam enganados. Não vou entrar em discussão. Mas basta olhar coisas que já aconteceram. Por exemplo, a quantidade de sedimentos que desceu dentro do rio Itajaí-Açu (SC), no final de 2008, quando caíram inúmeras encostas no vale do Itajaí, na região de Itajaí e Blumenau. Houve um desmoronamento do cais do porto, um mega-assoreamento do canal do porto de Itajaí, sem contar diversas mortes na tragédia. Foi um evento natural, e em quantitativos ele é extremamente maior do que esse do rio Doce.
. E o porto de Itajaí está lá, o rio Itajaí-Açú está lá, Blumenau está lá. O rio voltou ao normal. Sinceramente eu acho que essas pessoas estão sendo movidas pelo impacto humano da tragédia, pela emoção. As mortes e os prejuízos são dores e perdas eternas. Mas temos que separar. Para voltar para o plano racional, só deixando o tempo passar.
. É possível mensurar a quantidade de sedimentos que chegou ao mar do Espírito Santo e o impacto ambiental disso? Dias atrás cientistas cogitaram impactos catastróficos nos ecossistemas marinhos da região.
. Sim. De acordo com os últimos números, a concentração a 10 km de distância da foz do rio Doce, onde a lama teve contato com o mar, está entre 50 e 20 mg/l de sedimentos em suspensão. Isto é muito insignificante para ser considerado um risco ambiental. É absolutamente desprezível.
. Para se ter uma ideia, a água transparente do mar, costeira, tem tipicamente 5 mg/l de sedimentos em suspensão. A água dentro de uma baía tem tipicamente entre 50 mg/l a 100 mg/l de sedimentos em suspensão. A água de um rio com cor barrenta tem em torno de 500 mg/l de sedimentos de suspensão, são todos dados naturais. Rios muito barrentos, como o Amazonas, têm entre 1.500 e 2.000 mg/l de sedimentos em suspensão na época de cheia.
. Então se a 10 km da foz do rio Doce você vai ter concentrações de no máximo 50 mg/l no mar, embora você veja a coloração diferente por mais algumas semanas, é óbvio que não estamos falando de danos ambientais. Diferentemente de um vazamento de petróleo, que você usa bactérias para decompor e limpar - e leva tempo e gera mortalidade de vida marinha muito maior -, no caso atual você não tem como limpar a lama no mar. Ela se dilui naturalmente, sozinha. Mesmo que você tenha um padrão de ventos que gere correntes fora do usual, a distância é tão grande e a diluição é de tal ordem que não causaria efeitos danosos em Abrolhos.
. E quanto à composição destes sedimentos que compõem a lama? É possível que seja descoberto que têm uma toxicidade muito maior do que se imagina e que possa causar danos futuros?
. Risco sempre há, mas não tenho razões para acreditar nisso. Já ouvi pessoas que não são da área darem prognósticos devastadores quanto à toxicidade desse material. E já ouvi pessoas que são especializadas, da área de geologia, e que conhecem muito bem isso, dizerem o oposto, que se trata de um material de baixa toxicidade.
. Então não tem grandes impactos persistentes no longo prazo. As pessoas podem tirar da cabeça essa ideia de que se trata de algo radioativo, de um veneno ambiental que vai matar tudo e nunca vai sair do chão. Não é nada disso.
. Para você ter uma ideia, a doutora Marilene Ramos, que é a presidente do Ibama, tem doutorado em mecânicas do solo. Ela fala inclusive com um conhecimento específico de solo muito maior do que o meu. Ela me disse que esse material não é de alta toxicidade e que é basicamente areia fina, argila e óxido de ferro. Claro que tem traços de outras substâncias, mas em concentrações muito baixas, que não oferecem risco.
. Na sua opinião o que deveria ser feito no distrito de Bento Rodrigues (MG), o vilarejo mais devastado pela avalanche de lama? Como limpar ou recuperar o local? E quanto isto pode custar?
. Primeiramente o governo de Minas Gerais precisará avaliar o que retirar de escombros, de estruturas danificadas, e ver se deixa algo como marco simbólico da tragédia. É um absurdo permitir o retorno das pessoas para aquele local.
. Se eu fosse o governo de Minas Gerais obrigaria a Samarco a fazer um parque memorial ali. Fazer um projeto bonito, fazer um paisagismo, uma correção de solo, um jardim, e ficaria como memória, com homenagem às pessoas que sofreram essa desgraça toda. Ninguém vai poder voltar a morar ali.
. O senhor orientaria o governo mineiro a retirar os outros povoados que estão na linha de avalanche de outras barragens de rejeito de mineração?
. Com certeza. Muitas vezes os povoados se formam próximo às barragens porque atraem empregos e comércio. Mas o poder público não poderia permitir a instalação de povoados em áreas de passagem de eventos como esse que ocorreu. Hoje não faltam ferramentas computacionais que nos permitem simular um rompimento de uma barragem e mostrar qual é a trilha de percurso da avalanche. Atualmente é inaceitável e injustificável ter povoados em rotas de avalanche de barragens, ninguém poderia morar nestes locais.
. O senhor considera que isto foi uma irresponsabilidade dos atores envolvidos?
. Olha, irresponsabilidade é quando você tem consciência do fato e não faz nada. Tudo é óbvio depois que você já sabe o que aconteceu. Ou seja, a partir de agora, deste exemplo dramático e catastrófico, se o governo não tomar medidas para realocar pessoas em áreas de alto risco, em outros locais onde se sabe que poderia ocorrer algo semelhante a Mariana ou até pior, eu diria que estaríamos falando de uma atitude mais do que irresponsável, mas sim criminosa.
. Há duas opções. Você pode remover o povoado para outro local, ou se o povoado for grande demais, você embarga o negócio lá em cima. Para de usar a barragem, estabiliza, deixa secar, e pronto. Transfere a atividade para outro lugar. Tem que ver o que é mais viável. (Paulo Rosman, professor de Engenharia Costeira da Coppe/UFRJ_Ricardo Moraes/Reuters)

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