28 de nov. de 2011

Vazamento da plataforma Chevron

 • Desenho esquemático, para melhor compreensão.
 • Houve um erro operacional confesso. A Chevron estava usando lama de perfuração com densidade inferior à necessária para conter o petróleo na formação. Tomaram um kick, ou seja, o hidrocarboneto entrou para dentro do poço, substituindo parte da lama que é mais pesada, e consequentemente reduzindo ainda mais a densidade da lama. Tiveram que fechar o BOP, com isto  estancando a alimentação de HC no poço MAS às custas de um aumento de pressão no BOP que fica no fundo do mar, mudando a coluna hidrostática da lama (agora contaminada com o HC e com menor densidade, ou seja, para a mesma pressão no fundo, e com gradiente menor, maiores pressões nas formações mais rasas. Isto provocou o fraturamento da formação exposta). Com isto superaram a pressão de fratura da formação, ativando falhas que se comunicavam ao fundo do mar.
 • Tomemos como base, por exemplo, o desenho abaixo, para um poço projetado para ter três fases de revestimento (a cada fase perfurada, desce um revestimento, o seguinte de menor diâmetro, como uma antena de automóvel invertida). Suponhamos que apenas os dois primeiros estivessem instalados, e a perfuração estivesse sendo feito na terceira fase. A linha verde é o gradiente da lama no poço, antes do kick. A linha vermelha é o gradiente de pressão no poço depois que a lama se contaminou com óleo e gás, e foi fechado o BOP. Veja o acréscimo de pressão @ 1700m.
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• Isto é apenas uma ilustração, não conheço os detalhes para afirmar que foi assim, mas isto é o que se depreende daquilo que está sendo divulgado como informações prestadas pela Chevron.
 • Estranhei as declarações do presidente da Chevron porque denunciam uma incompetência técnica que uma empresa deste porte não deveria apresentar. Esta situação poderia ser evitada se tivessem descido revestimento antes de atingir a zona de interesse, para proteger a formação exposta à sobrepressão que veio de uma zona de interesse que se mostrou mais pressurizada. Por uma decisão de economia de projeto, a Chevron se sujeitou às possibilidades, como esta que aconteceu.
 • Quanto ao acidente da P-36, a causa primordial foi a ANP querer a devolução do campo de Roncador que a Petrobras tinha descoberto para entregá-lo ao mercado. Como já lhe escrevi antes, as empresas estão submetidas a uma condição de contorno totalmente diferente desde que o neo-liberalismo tomou conta da economia. As pressões sobre as operadoras vêm do custo de capital emprestado (vetor financeiro) e exigências de contrato empresarial (ANP, vetor tempo, cumprimento de prazos), e o óleo está sendo encontrado em condições cada vez mais hostis (lâmina dágua, complexidade geológica, localização geográfica nos polos, etc e tal).
 • Os desafios da indústria de petróleo com certeza passam longe do que se chama leis de mercado, o petróleo nunca foi uma commoditie, apesar de estar sendo assim tratado nos últimos anos. Este acidente da Chevron vai, como você diz, enrigecer ainda mais as exigências da ANP, onerando ainda mais os projetos, e consequentemente, o custo de extração e preço dos combustíveis, forçando um comportamento social bastante diferente do que vivemos até então. (Eng° BR)

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