22 de jul. de 2010

Demolir viaduto?

Demolir viaduto? E os 120 mil veículos que passam por lá?

Há certas iniciativas da administração pública que, pelo seu caráter de impossibilidade e inconseqüência, atingem as raias do absurdo a custo altíssimo e, por isso, devem ser afastadas de plano. É o caso típico do projeto do prefeito Eduardo Paes, que, empenhado na urbanização e edificação da orla portuária do Rio, traçou como meta demolir o elevado da Avenida Rodrigues Alves. Absolutamente incrível que um governante alimente tal ideia.

Reportagem publicada em O Globo de 16 de julho – dia em que perdemos a Copa de 50 – assinada por Luiz Ernesto Magalhães, Luiz Gustavo Schmit e Jaqueline Costa, muito bem escrita, revela os detalhes da infeliz proposição. Tão infeliz, e tão cara, que não acredito venha a ser executada. Não creio que o presidente Lula seja capaz de aprovar tal desatino. E ele teria responsabilidade nisso, uma vez que o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Felipe Goes, anuncia que o custo do bombardeio contra o interesse público seria de 3,5 bilhões de reais, obtidos através de financiamento à base de recursos do FGTS.

Para se dimensionar financeiramente tal desatino, basta dizer que o orçamento da Prefeitura do Rio para este ano é de 12 bilhões de reais em números redondos. A derrubada de uma obra cuja construção se estendeu por dezoito anos custaria um quarto da atual lei de meios carioca. Incrível o descritério.

Demorou dezoito longos anos. A construção do elevado da Perimetral, assisti como repórter do Correio da Manhã, foi acertada em 1962 entre o governador Carlos Lacerda e o ministro Virgílio Távora, titular da pasta dos Transportes no governo João Goulart. Estávamos às vésperas das eleições em que Eloi Dutra derrotou Lopo Coelho, candidato de Lacerda para vice governador.

Na ocasião do convênio, Lacerda fez propaganda eleitoral de Lopo usando de ironia: só na Marinha, disse, existe contra-almirante. Mas na Guanabara não pode haver contra-governador. Mas este é um episódio à parte.

Carlos Lacerda estava especialmente empenhado porque a obra constava do planejamento de seu governo elaborado em 61 por Hélio Beltrão, Rafael Magalhães e Eurico Siqueira. Aprovado o projeto, as obras começaram. Negrão de Lima deu continuidade. O projeto foi incorporado ao plano estadual de urbanização a cargo do secretário Humberto Braga, depois conselheiro do Tribunal de Contas.

O elevado atravessou não só o espaço, mas também o governo Faria Lima e veio a ser concluído e inaugurado pelo governador Chagas Freitas. Aliás uma das grandes obras de sua segunda administração. A que começou em 79 e terminou no início de 83. O viaduto foi inaugurado em 1980. Presta serviços essenciais e permanentes à cidade e por ele trafegam diariamente nada menos que 120 mil veículos, automóveis, ônibus, caminhões.

Sem o elevado, como vai ser? Para onde poderá ser desviado tão grande volume de trafego? Impossível. Lembra o arquiteto Antonio Agenor Barbosa, professor da UFRJ, que será o fim da conexão do trafego com a Linha Vermelha, com a Av. Brasil, e com a Ponte Rio-Niteroi. São – vale acentuar – 120 mil veículos, não em 24, mas em 12 horas por dia. Nas madrugadas, é claro, não há congestionamentos.

Além de tudo isso, o secretário Felipe Goes informa que, no lugar do elevado, será construído um mergulhão da Av. Rodrigues Alves. Mas o preço deste não está embutido no custo da demolição. Além do mais, o que na sua visão acontecerá primeiro? A demolição do elevado ou a construção e operação do mergulhão? Para rimar, só recorrendo a Shakespeare: o delírio não passa de um sonho de uma noite de verão. Pedro do Coutto)

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