"Homens e mulheres do nosso tempo ainda lêem e criam poesia como se a sentença provocadora de Adorno – *escrever poemas depois de Auschwitz é um ato de barbárie* – merecesse esta animosa interrogação: Por que a barbárie deve prevalecer?Hoje a obra de arte e de poesia, sob o império de mercado, tornou-se, como pensava o mesmo Hegel, e mais do que nunca, *essencialmente uma pergunta, uma interpelação que ressoa, um chamado aos ânimos e aos espíritos*. E onde há perplexidade, há esperança, um fio de esperança, de recomeço."(*BOSI, Alfredo. O ser o tempo da poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p 17). Platão, que expulsou os poetas de sua República, que me perdoe, mas poesia é essência, poesia é essencial.
Não tenho notícia de um estigma tão infundado como esse. Não o somos nem podemos ser platônicos, se estamos expulsos do "idealismo platônico" pelo seu próprio precursor. As Ciências Sociais avançaram muito nessa área.
Para ela, a Poesia é uma instituição social básica: "Se definirmos a instituição social como uma prática humana permanente, visando a satisfazer alguma necessidade coletiva, considero a Poesia que, como Arte, preenche a necessidade de beleza do ser humano, onipresente há milênios no mundo, tanto em povos arcaicos, antigos ou modernos, como uma instituição social básica, assim como o são: a família, a religião, a agricultura etc." É o que nos ensina o sociólogo e poeta Alberto da Cunha Melo. A afirmativa tem como fonte Émile Durkheim, em As regras do método sociológico (São Paulo: Nacional, 1966, p. XXXI.), onde define instituição social como "toda crença, todo o comportamento instituído pela coletividade."
Numa época em que a imagem da barbárie que tirou a vida do menino João Hélio Fernandes inunda nossa mente, em que toda sorte de atrocidades parecem ter assumido o comando de nossas vidas, será que falarmos sobre poesia é um crime bárbaro também? pergunto-me.
Mas a resposta vem em forma de outra pergunta do mestre Alfredo Bosi: Por que a barbárie deve prevalecer?
( Alberto da Cunha Melo, poeta pernambucano )
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