São Sebastião Mártir20 de janeiro
Nascido em Narbona, na Gália, foi centurião romano no tempo de Dioclesiano, que o condenou a servir de alvo aos arqueiros do exército, por ter exortado dois amigos a permanecerem fiéis à fé cristã. Irene (Santa), que o levara a enterrar, percebendo-lhe ainda vida, tratou seus ferimentos e o curou. Sarado, apresentou-se ao Imperador, que o condenou à morte, desta vez a pauladas. Foi sepultado nas Catacumbas.
O Santo aparece pela primeira vez representado sobre um afresco do séc.V, dentro das catacumbas de São Calixto, na Via Appia. É a partir do século XIV, que São Sebastião é representado da forma que o conhecemos hoje, como jovem paladino, semelhante aos heróis legendários, mais apropriado à função que exercia na corte do Imperador Romano.
No Brasil, é venerado de norte a sul. Não é de se espantar, pois os primeiros navegantes que aqui chegaram, invariavelmente traziam uma imagem do Santo, aludindo o jovem rei Sebastião de Portugal, desaparecido na batalha de Alcácer-Quibir. A tradição oral diz que o Santo ajudou Estácio de Sá, fundador de São Sebastião do Rio de Janeiro, a expulsar os franceses, que queriam invadir a cidade e saqueá-la, não livrando contudo nosso herói fundador, de morrer por uma flecha envenenada.
A imagem de São Sebastião, trazida de Portugal por Mem de Sá, Governador Geral do Brasil e tio de Estácio de Sá, se encontra na Igreja de São Sebastião do Rio de Janeiro, sob a guarda dos padres capuchinhos, assim como o marco de Fundação da Cidade e os despejos de seu fundador.
São Sebastião é o protetor contra as pestes, e portanto se justifica a presença quase que obrigatória do mártir nas igrejas coloniais, capelas ou pequenos nichos devocionais, a fim de proporcionar ao colono, rebanho e colheita saudáveis nas Minas Setecentistas.
A Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro possui treze registos de santo, sendo alguns invertidos, quase todos portugueses. Um deles da autoria de Johann Baptist Shrub, irmão de Johann Sebastian Shrub, gravadores de Augsburg, que influenciaram o Aleijadinho na talha, e as oficinas responsáveis pela execução dos nichos de pedra-sabão (lapinhas e figuras em carbonato de magnésio).
A Biblioteca Nacional possui ainda um livro de horas do séc. XV, onde uma miniatura de São Sebastião aparece sob a coroa real. Segundo D. Ana Virgínia Pinheiro, autora do livro Que é Livro Raro, o livro de horas deve ter sido executado para o próprio São Sebastião. É o mais antigo registo do Santo no país.
Mas foi a partir dos registos em papel, como os da coleção Souza Lima, organizados por D. Cecília Duprat de Brito Pereira, que as imagens de São Sebastião foram executadas nos mais diversos materiais (barro ressequido, terracota, madeira, pedra e chumbo) no período colonial.
Até nós chegaram inúmeras imagens em marfim provenientes principalmente da Índia (também Japão, China, África, Filipinas). Lá também, artistas e oficinas produziram a partir desses mesmos registos, levados pelos jesuítas e também franciscanos.
As imagens em marfim, do séc. XVII, cheias de força primitiva, representam São Sebastião quase a dançar como khrisna, deus da dança. As flechas o remetem a Shiva, que também teria morrido flechado segundo a tradição hindu.
Sendo São Sebastião o patrono da Cidade do Rio de Janeiro, foi nessa cidade sincretizado pelos missionários como Oxossi, Rei da Nação Ketu, origem dos candomblés mais ortodoxos do Brasil.
Oxossi, um caçador yorubá, tornou-se Rei de Ketu (Alaketu), após matar com uma única flecha, um enorme pássaro negro que concentrava nessa forma, o poder ancestral feminino, um poder maléfico que dominava toda a cidade, após ter se apoderado do Palácio Real.
É por isso, que tanto como no Rio de Janeiro quanto em qualquer lugar do Brasil, quando os atabaques começam o toque de Oxossi nos candomblés Nagô, todos os presentes tocam o chão (terra) com a ponta dos dedos e o levam à cabeça em referência ao primeiro ancestral.
Guilherme de Brito
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