
Cientistas europeus descobrem planeta habitável fora de nosso sistema
Cientistas da Organização Européia para a Pesquisa Astronômica no Hemisfério Austral (ESO) descobriram um planeta habitável fora de nosso sistema solar, com temperaturas muito similares às da Terra.
O planeta tem um raio equivalente a 1,5 do raio da Terra, uma massa cinco vezes maior que a de nosso planeta e tem capacidade para armazenar água, informou nesta terça-feira a equipe da ESO, com sede na localidade alemã de Garching.
A organização é formada por astrônomos suíços, franceses e portugueses."Achamos que a temperatura dessa 'Super-Terra' oscila entre 0ºC e 40ºC, de modo que a água poderia ser líquida", assinalou Stéphane Udry, do Observatório de Genebra, através de um comunicado.
O distante planeta fica na constelação de Libra e gira em torno da estrela Gliese 581. O exoplaneta, como os astrônomos definem os planetas que não fazem parte de nosso sistema solar, é o menor já descoberto, e, segundo os cientistas, realiza uma órbita completa em 13 dias. Além disso, sua distância em relação à Gliese 581 é 14 vezes menor que a que separa a Terra do Sol, explicaram os cientistas da ESO, reforçando, no entanto, que ainda não foram encontrados indícios de água ou vida. A estrela do planeta descoberto é menor, menos fria e luminosa que o Sol. Por isso, o planeta se encontra em uma área habitável, ou seja, em uma região na qual a água poderia ser líquida e as temperaturas ambientais, agradáveis.
Os prognósticos realizados pelos cientistas mediante o uso de diferentes modelos indicam que o planeta deve ser muito rochoso, como a Terra, ou estar coberto por oceanos, assinalou Udry. "Tendo em vista sua temperatura e sua proximidade relativa (a Gliese 581 é uma das estrelas "próximas" à Terra), o planeta será, com grande probabilidade, um alvo muito importante das futuras missões espaciais que se dedicarem à busca por vida extraterrestre", disse Xavier Delfosse, da Universidade de Grenoble e membro da equipe de Udry.
Segundo Delfosse, caso fosse elaborado um "mapa dos Tesouros do Universo, uma pessoa ficaria tentada a marcar esse planeta com um 'x'". A Gliese 581 é uma das cem estrelas mais próximas à Terra, situada a apenas 20,5 anos-luz da constelação de Libra, e com cerca de 30% da massa do Sol, explicaram os astrônomos. Para eles, esse tipo de "anões vermelhos", como a Gliese 581, são os alvos ideais na hora de se procurarem planetas habitáveis. Isso porque, ao emitir menos luz, a região habitável está muito mais próxima da estrela que no caso do Sol, afirmou Xavier Bonfils, da Universidade de Lisboa. Os planetas em torno das regiões habitáveis podem, então, ser encontrados através do "método de velocidade radial", utilizado com freqüência na detecção de exoplanetas. Para isso, utilizou-se o espectógrafo mais preciso do mundo, o High Accuracy Velocity for Planetary Searcher (Harps), colocado no telescópio da ESO em La Silla, no Chile.
Segundo explicou a equipe de astrônomos, o Harps tem condições de medir velocidades com uma precisão maior que um metro por segundo. Há dois anos, o mesmo equipamento da ESO encontrou um planeta em torno da Gliese 581 com uma massa equivalente a 15 vezes a da Terra (similar à de Netuno). Ele gira ao redor da órbita de sua estrela em 5,4 dias.
Por essa época, os astrônomos viram indícios de outro planeta, o que conduziu ao achado da Super-Terra. Além disso, foram encontrados rastros que apontam para a existência de um planeta com uma massa oito vezes superior à da Terra e que completa a órbita da Gliese 581 em 84 dias.
A detecção de um planeta comparável à Terra na órbita da estrela Gliese 581 permite cruzar um "limiar" na pesquisa dos exoplanetas (situados fora do Sistema Solar), e talvez pressupor a existência de vida extraterrestre, afirmou um dos cientistas que participou da descoberta, o astrônomo francês Xavier Bonfils, da Universidade de Lisboa.
AFP: O que representa a descoberta de um planeta comparável à Terra ?
Xavier Bonfils: Cruzamos um limiar. Mostramos que somos capazes de encontrar planetas que podem abrigar vida. Este deve ser o primeiro de uma série. Precisamos de mais planetas deste tipo para constituir uma amostra. Eles poderão ser observados diretamente com a próxima geração de instrumentos. Estes serão os grandes telescópios (interferômetros, coronógrafos) que serão enviados para o espaço por volta de 2020.
AFP: O que os instrumentos poderão encontrar nestes planetas ?
X.B.: Poderão descobrir indícios de vida em sua superfície... Será preciso medir sua temperatura para saber se esta corresponde bem à que nós calculamos. Isto depende da quantidade de luz absorvida pela atmosfera. Se for como na Terra, esperamos uma temperatura de 0° Celsius. Se for como Vênus, esperamos uma temperatura de 40°C. Em seguida, se tentará observar as atmosferas e determinar seus constituintes químicos. Por exemplo, na Terra, encontramos constituintes químicos que não existiriam se não houvesse vida: o ozônio, o dioxigênio e o metano. Se encontrarmos o conjunto destes constituintes na atmosfera de um planeta como a Terra, este seria um indício de vida.
AFP: Pode-se imaginar o envio de mensagens para este planeta ?
X.B.: As ondas eletromagnéticas se propagam com a velocidade da luz. Este planeta está a 20,5 anos-luz: a mensagem levaria, então, apenas 20 anos para chegar a ele. A Gliese 581 faz parte das cem estrelas prioritárias do programa SETI (sigla em inglês para Busca por Inteligência Extraterrestre) porque é uma das estrelas mais próximas.Imaginamos que os responsáveis por este programa darão atenção particular nos próximos dias aos dados que já possuem relacionados a esta estrela. O SETI é uma experiência científica em radioastronomia que explora a potência de milhões de computadores conectados via Internet, em um projeto de pesquisa de inteligência extraterrestre. ESO
Obs: AFP (Agência France Press)
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