5 de mar. de 2006

Sociedade sem classes

Nas tribos indígenas existe uma ordem social e lideranças, mas não existem patrões e empregados. Todos trabalham, caçam e partilham fraternalmente. Isso aconteceu com todos os povos em sua pré-história. Por que? Porque o escravo só é possível se der lucro, não prejuízo. A escravidão deve ser auto sustentável e ainda dar lucro para o senhor. Isso só é possível a partir de um certo avanço do conhecimento e das ferramentas. O mesmo ocorre com as colônias, que só têm sentido se forem auto sustentável e ainda gerarem excedentes para a metrópole.
Em épocas muito remotas o homem vivia da caça e coleta, competindo com os outros animais, sem produzir. Posteriormente, no período chamado Neolítico, o homem começou a plantar e criar. No começo, a pequena produção era complementada com a coleta e caça. Mas os conhecimentos, as ferramentas e a domesticação foram sendo melhorados provocando aumento da produção. Chegou o dia em que cada um, em média, conseguia produzir tudo o que necessitava, não mais necessitando retirar da natureza, a não ser por esporte ou em eventual crise. Tudo partilhado em uma época de muita segurança. As lendas de um paraíso perdido parecem remontar a esse momento.
Até esse ponto não era possível escravizar porque retirar o produzido era matar de fome o trabalhador. Quando alguns povos conseguiram condições de produzir excessos, aí começaram a escravizar povos mais atrasados para forçá-los a produzir a própria subsistência e mais o excesso, que passou ser apropriado pelo dominador. Isso começou há seis mil anos, aproximadamente, em alguns lugares do mundo.
É claro que não deu certo! Surgiram as classes sociais, a miséria, a esmola, o embrutecimento, as guerras, o roubo, a trama, a maldade. O explorado se rebela, não se interessa pela produção que não é dele. Enfim, vivemos uma crise de seis mil anos que não se resolve. Passa por correções e mudanças – escravismo, feudalismo, capitalismo – mas não resolve o problema. Apenas alguns lugares experimentam momentâneas prosperidades à custa de explorar outras regiões. É claro que é impossível a existência de uma sociedade feliz e fraterna com patrões e empregados, com superiores e inferiores. E a ânsia infinita de galgar à classe superior, ou de nela se manter, leva ao corrompimento moral, de cima a baixo.
Surgem os exércitos para a dominação pelas armas. Surgem algumas religiões dizendo que é bom sofrer nesse mundo porque o sofrimento leva ao gozo eterno. Surgem as ideologias tentando convencer que este é o melhor dos mundos possíveis e que os problemas existem por culpa nossa. Surgem as leis, escolas, mídia, arte, sempre tentando perpetuar o estado de coisas. E continuamos submetidos a um mundo horroroso, com desemprego, violência, poluição, drogas, analfabetismo, exploração, corrupção, bajulação. A destruição é enorme, quanto pior melhor! O poder econômico, cuja arma é o suborno, paira
sobre tudo e todos, inviabilizando a democracia.
A idéia de sociedade sem classes sociais nunca morreu. Muito se escreveu, com muita emoção ou interesse. Campanela escreveu "A cidade do sol" e passou vinte e sete anos na prisão. Morus escreveu "Utopia", Marx fez uma proposta objetiva de passagem para uma sociedade sem classes sociais. Vários povos tentaram sua reconstrução e não conseguiram, por erros de implantação, de pressão do resto do mundo e por ser difícil, depois de seis mil anos, exigindo mudanças de paradigmas.
Muito se discute, mas só temos duas certezas: a primeira é que não sairemos dessa crise milenar, sem mudar o sistema; a segunda é que, se for possível a nós mesmos construir para nós mesmos uma sociedade sem ricos e pobres, será democrática, pelo mesmo fato de ser sem ricos e pobres.
Fica difícil imaginar outro mundo fraterno!
Mas sonhar é gostoso!...
(Ernesto Rosa)

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