16 de mar. de 2013

Mais uma resposta...

Professora responde à Revista Veja
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• Sou professora (Colégio Estadual Mesquita) do Estado do Paraná e fiquei indignada com a reportagem da jornalista Roberta de Abreu Lima na revista Veja, aula cronometrada.

• É com grande pesar que vejo quão distante estão seus argumentos sobre as causas do mau desempenho escolar com as verdadeiras razões que geram este panorama desalentador.

• Não há necessidade de cronômetros, nem de especialistas para diagnosticar as falhas da educação.

• Há necessidade de todos os que pensam que: os professores é que são incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital entrem numa sala de aula e observem a realidade brasileira.

• Que alunos são esses repletos de estímulos que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais inseridos na era digital?

• Em que pais de famílias oriundas da pobreza trabalham tanto que não têm como acompanhar os filhos em suas atividades escolares, e pior em orientá-los para a vida?

• Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas essas que infelizmente são trazidas para dentro da maioria das escolas brasileiras.

• Está na hora dos professores se rebelarem contra as acusações que lhes são impostas. Problemas da sociedade deverão ser resolvidos pela sociedade e não somente pela escola.

• Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos professores, e não cumprir as obrigações fossem escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os alunos de hoje repletos de estímulos.

• Estímulos de quê? 

• De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite, (quando o têm), brincando no Facebook, ou, o que é ainda pior, envolvidos nas drogas.

• Sem disciplina seguem perdidos na vida. Realmente, nada está bom. Porque o que essas crianças e jovens procuram é amor, atenção, orientação e disciplina.

• Rememorando, o que tínhamos nós, os mais velhos, há uns anos atrás de estímulos? 

• Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria.

• Esperança que se estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida.

• Hoje os jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais. 

• Para quê o estudo?

• Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens?

• Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os amigos, de ir aos piqueniques, subir em árvores?

• E, nas aulas, havia respeito, amor pela Pátria.. 

• Cantávamos o hino nacional diariamente, tínhamos aulas chatas só na lousa e sabíamos ler, escrever e fazer contas com fluência.

• Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª. Série. 

• Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão.

• E tínhamos motivação para isso. 

• Hoje, professores incapazes dão aulas na lousa, levam filmes, trabalham com tecnologia, trazem livros de literatura juvenil para leitura em sala-de-aula (o que às vezes resulta em uma revolução), levam alunos à biblioteca e a outros locais educativos (benza, Deus, só os mais corajosos!) e, algumas escolas públicas onde a renda dos pais comporta, até a passeios interessantes, planejados minuciosamente, como ir ao Beto Carrero.

• E, mesmo, assim, a indisciplina está presente, nada está bom.

• Além disso, esses mesmos professores incapazes, elaboram atividades escolares como provas, planejamentos, correções nos fins-de-semana, tudo sem remuneração; 

• Todos os profissionais têm direito a um intervalo que não é cronometrado quando estão cansados.

• Professores têm 10 minutos de intervalo, quando têm de escolher entre ir ao banheiro ou tomar às pressas o cafezinho.

• Todos os profissionais têm direito ao vale alimentação, professor tem que se sujeitar a um lanchinho, pago do próprio bolso, mesmo que trabalhe 40h semanais.

• E a saúde? 

• É a única profissão que conheço que embora apresente atestado médico tem que repor as aulas.

• Plano de saúde? Muito precário.

• Há de se pensar, então, que são bem remunerados... Mera ilusão!

• Por isso, cada vez vemos menos profissionais nessa área, só permanecem os que realmente gostam de ensinar, os que estão aposentando-se e estão perplexos com as mudanças havidas no ensino nos últimos tempos e os que aguardam uma chance de cair fora.

• Todos devem ter vocação para Madre Teresa de Calcutá, porque por mais que se esforcem em ministrar boas aulas, ainda ouvem alunos chamá-los de vaca, puta, gordos, velhos entre outras coisas.

• Como isso é motivante...e temos ainda que ter forças para motivar. Mas, ainda não é tão grave. Temos notícias, dia-a-dia, até de agressões a professores por alunos.

• Futuramente, esses mesmos alunos, talvez agridam seus pais e familiares.

• Lembro de um artigo lido, na revista Veja, de Cláudio de Moura Castro, que dizia que um país sucumbe quando o grau de incivilidade de seus cidadãos ultrapassa um certo limite.

• E acho que esse grau já ultrapassou. Chega de passar alunos que não merecem. • Assim, nunca vão saber porque devem estudar e comportar-se na sala de aula; se passam sem estudar mesmo, diante de tantas chances, e com indisciplina... E isso é um crime!

• Vão passando série após série, e não sabem escrever nem fazer contas simples.

• Depois a sociedade os exclui, porque não passa a mão na cabeça. 

• Ela é cruel e eles já são adultos.

• Por que os alunos do Japão estudam? Por que há cronômetros? Os professores são mais capacitados? Talvez, mas o mais importante é porque há disciplina.

• E é isso que precisamos e não de cronômetros.

• Lembrando: o professor estadual só percorre sua íngreme carreira mediante cursos, capacitações que são realizadas, preferencialmente aos sábados.

• Portanto, a grande maioria dos professores está constantemente estudando e aprimorando-se. Em vez de cronômetros, precisamos de carteiras escolares, livros, materiais, quadras esportivas cobertas (um luxo para a grande maioria de nossas escolas), e de lousas, sim, em melhores condições e em maior quantidade.

• Existem muitos colégios nesse Brasil afora que nem cadeiras possuem para os alunos se sentarem. E é essa a nossa realidade!

• E, precisamos, também, urgentemente de educação para que tudo que for fornecido ao aluno não seja destruído por ele mesmo.

• Em plena era digital, os professores ainda são obrigados a preencher os tais livros de chamada, à mão: sem erros, nem borrões (ô, coisa arcaica!), e ainda assim se ouve falar em cronômetros. Francamente!!!

• Passou da hora de todos abrirem os olhos e fazerem algo para evitar uma calamidade no país, futuramente.

• Os professores não são culpados de uma sociedade incivilizada e de banditismo, e finalmente, se os professores até agora não responderam a todas as acusações de serem despreparados e incapazes de prender a atenção do aluno com aulas motivadoras é porque não tiveram tempo.

• Responder a essa reportagem custou-me metade do meu domingo, e duas turmas sem as provas corrigidas.

• Vamos começar uma corrente nacional que pelo menos dê aos professores respaldo legal quando um aluno o xinga, o agride... chega de ECA que não resolve nada, chega de Conselho Tutelar que só vai a favor da criança e adolescente (capazes às vezes de matar, roubar e coisas piores), chega de salário baixo, todas as profissões e pessoas passam por professores, deve ser a carreira mais bem paga do país, afinal os deputados que ganham 67% de aumento tiveram professores, até mesmo os alfabetizados funcionais.

• Pelo amor de Deus somos uma classe com força!!!

• Somos politizados, somos cultos, não precisamos fechar escolas, fazer greves, vamos apresentar um projeto de Lei que nos ampare e valorize a profissão.

• Vamos fazer uma corrente via internet num repasse aos que desconhecem!

• Grata. 
(Vanessa Storrer, professora da rede Municipal de Curitiba) 
Mesmo quem não atua como docente, um dia passou por uma escola e tornou-se o que é hoje! No Japão, o único profissional que não precisa fazer reverência ao imperador é o professor. Segundo os japoneses numa terra que não há professores, não pode haver imperadores.

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