15 de jun. de 2011

Nos deixamos castrar

• Prezado,
• A observação demográfica é inerente ao meu trabalho, talvez por isso tenha algumas preocupações que absolutamente não merecem importância geral, e algumas delas exponho nesse texto em que observei, diretamente, a castração social sofrida pela prole nascida desde os genitores que no Brasil deixaram suas sementes a partir do século XX, tão recentemente encerrado que quase não o considero passado.
• Olho para trás e vejo meu avô e avó com seus 22 filhõs, seus filhos mais velhos, homens, à meia boca dos pais não tiveram nem 10 filhos cada um, o restantes ficaram com seus 3, 4 ou no máximo 5 filhos. Eu e meus primos estamos computando 1, 2 e no máximo 3, qualquer outro número de filhos é absolutamente um acidente, para alguns um acidente, um risco da inseminação artificial. Nossos filhos têm reservas quanto a ter filhos, no máximo 1, ou 2. A continuar essa escalada após os bisnetos a descendência acabará.
• Saímos, enquanto país, da era da agricultura da enxada onde a mão-de-obra explicava a necessidade de tantos filhos - muito mentirosamente -, para a era da universidade, do todo filho tem que ser doutor, mesmo assim, tendo cada vez menos gente diretamente sob nossos cuidados fomos incapazes de universalizar a educação, a saúde, e tudo o mais, inclusive o emprego e as condições de sobrevivência desse miserê de gente que brotou de testículos cada vez menos férteis.
• Sabemos que nos anos 1960 a Aliança para o Progresso, um programa dos Rockfellers, sob o manto da Democracia Usamericana distribuiu fartamente leite com hormônios visando a redução da fertilidade de homens e mulheres na América Latina. Essa é parte da explicação, e talvez até sirva para justificar o exacerbado homossexualismo de nascença que já nos impõe a obrigatoriedade, quase alcançada por lei, de em futuro próximo todos experimentarmos essas uvas.
• Alguns menos informados usarão os argumentos oficiais para manterem-se a prumo na questão e dirão que a emancipação feminina promovida pela pilula deu à mulher a liberdade de não ter filhos, pelo menos não tantos quantos seus pais e avós tinham. Essa é outra grande mentira.
• Nos castraram socialmente com a insidiosa propaganda neoliberal de que o Estado não deve ser responsável pela coletividade, que cada um deve ter o menor número de filhos a fim de que só os pais, os únicos responsáveis lhes pudessem prover as necessidades de consumo adquirindo-lhes educação privada - porque o poder público deixava de o fazer -, saúde privada, porque os planos de saúde tinham a fama de ser melhores do que a prática médica dos médicos que trabalhavam para o Estado, e assim por diante, inclusive na segurança esse conceito se estendeu, e, o guardinha alcançou o status de ser mais temido que a própria polícia cujo despreparo passou a ser tônica midiática. Tudo mentira, tudo interesses financeiros de uma economia de consumo projetada para expansão de mercados e sua completa exaustão pelo superabastecimento de quinquilharias - é o que temos hoje, a impotência generalizada de homens e mulheres afetados desde sua capacidade reprodutiva até o último tostão que lhes é possível obter de empréstimos para que se torne um consumidor satisfeito com a mais moderna tecnologia que os mihões de olhos puxados, também exauridos como força de trabalho escravizada, possam nos entregar.
• Passamos a economizar, ou melhor poupar espermas e óvulos para que sobrassem mais dinheiros na aquisição de bens e serviços, assim tivemos menos filhos, a cada geração, para que a economia de consumo proliferasse. O trágico nisso é que as próprias relações maritais deixaram de ter a coesão que possuíam. Hoje, um casamento, é um título que se adquire e usufrui por alguns anos, senão só por meses, depois o divórcio nos dá a oportunidade de navegar noutras águas.
Essa deterioração da família têm graves consequências para nossa sociedade das insatisfações, ou sociedade de consumo. Até os membros de uma família passaram a ser produtos sociais. Para se livrar de um casamento é só pagar uma pensão para o ex-conjuge, e o filho, se houver, porque como disse, em função da precariedade das relações no mundo consumista nem as mulheres e nem os homens se satisfazem, e no máximo, um filho está em seus planos. Dos custos o menor preço a se pagar. Só os pouco atentos acabam tendo mais filhos, ou os que já alcaçaram status financeiros que os permitam esbanjar nesse tipo de despesas.
• O tempo virou dinheiro, e nesse caso vemos dois tipos de indivíduos: de um lado os endinheirados avessos aos dissabores da prática sexual com a companhia escolhida, não por afinidades afetivas, emotivas ou hormoniais, mas por interesses financeiros, daí que para esses, e para os realmente impotentes de reproduzir há o suprimento da indústria da reprodução assistida, que dispensa o ato sexual tradicional. Entretanto, ao pobre ainda só resta a velha prática do acasalamento direto, um verdadeiro anacronismo no mundo dos endinheirados e dos modernos onde o sexo é vito só como uma prática festiva ou uma aberração que só sabem classificar como estupro, tamanha a ojeriza que lhes afeta esse comportamento do velho e saudoso acasalamento, ainda em voga entre os animais - os verdadeiros, e os que restam da antiga e primitiva humanidade.
• A moderna educação já está apresentando seus conceitos a cerca do comportamento social adequado quanto ao sexo, e ensinará aos jovens que sexo é diversão eque devem, por isso, experimentar relações desse tipo com todos os sexos - seja lá quantos forem além dos tradicionais masculino e feminino, no meu tempo existentes -, e que a reprodução sexual é um acidente, já que existem clínicas especializadas no fazimento de gente, e que quando alguém quiser filho deve procurar um médico, e ele vai lhe dizer qual a melhor forma para sua reprodução, ao invés de você mesmo dar uma boa trepada com sua amada, o tal velho sexo oposto.
• A era da impotência se estendeu desde a capacidade reprodutiva até a possibilidade de influência social, por isso nos sentidmos impotentes polliticamente.
• Nos castraram de cabo a rabo.
• Diz o IBGE, no último censo demográfico, que no RGS, terra de machos, onde nasci, lá agora, a reprodução social se dá a 0,4% da população, isto é o povo gaucho já não está dando no couro, pelo menos os que por aquelas plagas permaneceram. A média nacional é de 1,17%. Em Roraima estaria a nossa - quer dizer, deles, melhor média de filhos, em torno de 4 por família, um mínimo, um indesejável mínimo, para uma área tão desabitada quanto o norte do país que tanto precisamos povoar. E, parece que os cabars do nordeste também já não são tão duros quanto noutros recentes tempos.
• Nesse ritmo não demora e estaremos importando chineses, por absoluta falta de capacidade de reprodução de nossos homens, mulheres, e correlatos.
• Brasília, 13 de junho de 2011, Clóvis Luís Marcolin
PS.- nao vou me estender porque o risco de escrever mais bobagens é esponencial.

Sunday short Film production - Curta metragem...
To be seen till the end
Curta-metragem ao estilo do Alfred Hitchcock ... Aqui

"Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo ! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo". (José Saramago)

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