O preço de ser
conservador
Ontem, enquanto
pagava a conta no caixa do supermercado, aproximou-se de mim um jovem alto,
cumprimentou-me efusivamente e disse: “Muito obrigado!”. Quando perguntei a
razão desse agradecimento, voltando a cumprimentar-me disse: “Porque eu sei o
preço que se paga por defender nossos princípios e nossos valores”.
Por coincidência, eu acabara de
ler matéria na Gazeta do Povo sobre “Como os artistas conservadores sobrevivem
numa Hollywood dominada por progressismo”. Na capital mundial do cinema, isso
afeta de modo especial os conservadores cristãos. O conteúdo da reportagem, que
pode ser lida aqui, trata da ascensão e queda de astros como Jim Cavaziel,
cujas oportunidades despencaram após haver interpretado Jesus em “A paixão de
Cristo”. Relata, também, os casos de Mel Gibson e Mark Wahlberg, igualmente
deletados em virtude de suas posições religiosas e políticas. Ambos tiveram que
financiar com recursos próprios o recém-lançado filme sobre a vida do padre
Stu. Nenhum estúdio se interessou pelo tema.
Em Hollywood, funciona um
macarthismo de esquerda que fecha as portas para conservadores, cristãos ou
eleitores declarados do Partido Republicano, em tudo semelhante ao que se vê no
setor cultural brasileiro, vestido da cabeça aos pés no brechó das ideologias
desastradas.
Tenho observado que filmes
baseados em fatos reais são destacados pelo público nas produções que rodam em
plataformas tipo Netflix e Amazon Prime. As pessoas se interessam por relatos
que sejam produto da realidade humana. Eis por que, tendo lido muito sobre
história da Igreja, nunca entendi o desinteresse dos produtores em relação às
vidas de grandes cristãos e santos da Igreja. Fazem mal intencionado muxoxo
para um reservatório quase inesgotável de existências exemplares, recheadas de
drama e paixão, coragem e sacrifício, êxitos e fracassos cujo fio condutor é a
fé assumida por seus personagens.
O padre Stu, retratado no filme de
Wahlberg, foi um boxeador violento, agnóstico e mulherengo que, após um
acidente grave, converteu-se, mudou de vida e virou padre. Há muitíssimo a
contar sobre grandes cristãos além de São Francisco de Assis. Quantos filmes
seriam proporcionados pela história de pessoas como Santo Agostinho e São Tomas
de Aquino, dois dos homens mais sábios e geniais da história humana! Ou São
Bernardo de Claraval – meu santo de devoção – que tanto influenciou o Ocidente
no século XII. Ou o cientista Santo Alberto, que escreveu com precisão sobre
todo o conhecimento de seu tempo. E as mulheres? Há bem mais do que Joana
D’Arc! Lembro Santa Helena, a mãe de Constantino; mártires como Santa Luzia;
mulheres, como Santa Catarina de Siena e Santa Catarina da Suécia, que ajudaram
a superar o exílio de Avignon; e mais Santa Tereza de Jesus, Santa Madre Tereza
de Calcutá e tantas outras. Tantas, aliás, que as omissões comprometem esta
lista.
O moço que me surpreendeu com seu
agradecimento no supermercado, exagerou meus méritos. Mas tinha uma visão bem
clara do que se paga, perante setores de grande influência, por andar para
frente e para o alto, na contramão do progressismo rasteiro, orgulhoso de seus
fracassos econômicos, sociais, políticos, estéticos e morais. (Percival Puggina, membro da Academia Rio-Grandense de
Letras, é arquiteto, empresário e escritor)
A vida é um constante recomeço.
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