22 de jan. de 2017

Morte, irrecorrível.

• Morte de Teori atrasa delações e investigação sobre Temer. Supremo Tribunal Federal não definiu que ministro herdará relatoria da Lava Jato na corte; Desastre aéreo que matou Teori expõe falha na segurança de ministros. O STF confirmou nesta sexta (20) que Teori não informou à Secretaria de Segurança do STF sobre o voo em Paraty. 
• A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, deu sinais de que vai redistribuir os processos da Operação Lava Jato a um dos dez atuais integrantes da Corte após a morte de Teori Zavascki, ministro-relator do caso. 
• Estados imitam governo federal e adotam teto para conter despesas. Rio Grande do Sul, Goiás, Ceará e Piauí congelam gastos por dez anos, mas abrem exceções.
• Concessão de aeroportos atrai ao menos seis grupos estrangeiros. Fortaleza (CE), Salvador (BA), Florianópolis (SC) e Porto Alegre (RS) serão leiloados em março. 
• União devolve a Estados 891 presos em 5 anos. Para autoridades, ação fortalece criminosos, que fazem contato com outros líderes de facção e disputam poder na volta; Em Alcaçuz, peritos acham mais crânios e pedaços de corpos. A Polícia Militar e os peritos entraram no presídio de Alcaçuz neste sábado (21) e encontraram restos de novos corpos em uma das 40 fossas do local. 
• Perda de empregos foi maior nos serviços. Crise destruiu 390 mil postos de trabalho formais no setor em 2016. 
• Para ex-presidente do STF, facção de assaltantes do erário é pior que PCC. Leia
• Partido de aluguel: Também no Senado, PT troca apoio por boquinhas. PT vende apoio no Senado e na Câmara em troca de 100 cargos. 
• Rio tem 20 dias para apresentar plano de climatização de frota de ônibus. 
• O que o servidor pagará. Rio quer empréstimo de R$ 5,5 bilhões com bancos para quitar folhas de servidores.
Marcha das mulheres reúne milhares contra Trump em todo o mundo. Até celebridades, como a cantora Madonna, participaram. 
• Analistas veem risco ao Brasil com Trump, mas também oportunidade. Desinteresse sobre a América Latina pode ser obstáculo. 
• Direita israelense vê Trump com simpatia. Maioria dos judeus acredita que presidente terá atitude mais amigável. 
• Trump agradece à Fox News, que o classificou como líder insurgente. Líder de uma revolta que tomou o controle de Washington, disse a emissora. 
• Trump diz que carnificina americana vai acabar; polícia prende centenas. 
• Na posse, republicano apela para tom populista e diz que poder sai de Washington e está de volta ao povo
• Brasil e América Latina saem do mapa em Davos. País e região são ignorados no Fórum, que voltou os olhos para Trump. 
• A volta. Veja
• Coral do Exército Vermelho (Conjunto Alexandrov) que perdeu um terço dos seus integrantes, incluindo o seu Diretor, no acidente de avião do dia 25 de dezembro de 2016 no mar Negro. O destino era a Síria. Acidente com o avião, um Tupolev 154, morreram 92 pessoas, sendo 64 integrantes do Coral.
Valeu à pena.
Não dá para aceitar a suposição de ter havido um atentado, sabotagem ou coisa igual. Mesmo assim, lá no fundo do cérebro, permanecerá a dúvida. Mesmo sabendo que de nada adiantaria, pois a Operação Lava Jato dobrou a curva da esquina. Quem se tornar relator do processo estará obrigado a seguir adiante na condenação dos corruptos envolvidos no escândalo.
A vida tem dessas surpresas. De Tancredo, Ulysses e Teori, entre tantos outros, já estava escrito.
Importa seguir adiante. A delação da Odbrecht não demora a ser conhecida. E outras. Tanto faz quem será o novo relator. Ou quantos corruptos serão denunciados, dispondo ou não de foro especial. A verdade é que montes de políticos, parlamentares ou não, deixarão de ser políticos e certamente, os que tiverem sido parlamentares.
O fundamental, a partir do início da Operação Lava Jato, e tanto faz quem irá encerrá-la, é que conluio entre empreiteiras e políticos está terminado. Claro que crimes continuarão a ser praticados, ainda que em número bem menor. As estrelas de primeira grandeza se apagarão, por ação do ministro Teori Zavaski, abruptamente interrompida, mas já completada em sua fase mais importante.
Agora é aguardar as investigações já iniciadas pelas autoridades competentes para apurar o acidente nas águas de Parati. Que o exemplo do morto ilustre permaneça para sempre na crônica do Poder Judiciário. Onde quer que ele se encontre, deixará marcada sua passagem com a lição de que, se a alma não é pequena, valeu à pena… (Carlos Chagas) 

Meu último desejo.
Eu carregava a tragédia pelas ruas como um segredo valioso.
Sim, senhores, eu vou contar tudo que aconteceu e que me levou a estar aqui depondo no FBI. Sim, vou chegar ao meu crime, mas antes devo dizer a vocês, senhores policiais, que tudo começou quando surgiram dores insuportáveis nos meus ossos. Fiz todos os procedimentos clínicos e voltei para saber do resultado.
O médico conferia meus exames, e eu não gostei de sua cara. Ele visivelmente tentava um sorriso calmo e ganhava tempo para me dar o diagnóstico. Eu olhava seu consultório, esperando: um elefante de prata na mesinha, órgãos embalsamados em vidros numa estante: um rim, pedaços de músculos, ossos e, estranha coisa, num canto da sala pendurado do teto, um grande mamulengo, um boneco nordestino, pendurado como um Cristo. Finalmente, o médico me olhou. Ele estava com medo ao me dizer que os exames não eram bons e me deu a sentença:
- Creio que não vale a pena operar, pois... (surgiu a verdade como uma facada) houve metástase da coluna para as vértebras, indo até o fígado, de modo que...
- O quê?... perguntei, com uma gota de esperança.
- Ao senhor, só resta esperar e... aproveitar a família, os amigos e a vida que ainda tem.
- Não tenho mais família.
O médico sorriu amargamente.
- Realize seus desejos....
- Quanto tempo? - perguntei.
- Difícil dizer; três, quatro meses...
A janela estava roxa do crepúsculo.
Quando eu saí pela rua, pensava que desejos?. Eu ainda não sabia, Mr. Officer. Eu sofria como um cão, mas apossou-se de mim uma estranha calmaria, um sossego com a perda da esperança. Finalmente eu tinha um destino traçado. Eu carregava a tragédia pelas ruas como um segredo valioso - ninguém sabia de si, a não ser eu.
Entrei em casa e não olhei o espelho com medo de não ser refletido. Minha casa só tinha móveis, não tinha ninguém. Nem o cachorro que desisti de comprar, achando-me ridículo com um Lulu da Pomerânia assistindo ao meu declínio.
Ocorreu-me antes de tudo o sexo. Mergulhei em puteiros sofisticados, onde colhia flores num jardim de mulheres. Em pouco tempo, cansei de ver as meninas com medo de meus gritos no orgasmo, como uma dor lancinante. Drogas, sim; tomei sim, Mr. Officer, elas matam aos poucos, mas e daí? Nada de pó vagabundo, eu tinha posses, graças a Deus, e podia comprar cocaína de Santa Cruz de La Sierra, pó em que o baque durava horas de euforia doida, seguida sempre de depressões devastadoras, lágrimas e vômitos
Meu desejo qual é?, pensava, andando pelas ruas imundas do Rio falido: obesos se arrastando, meninos jogando bolinha nos sinais, travestis sem fregueses com a maquiagem escorrendo, uma puta leprosa dançando na rua. Finalmente, tive a certeza: vou embora dessa merda de país. Vou curtir lá fora. Primeira classe. Graças a Deus, dinheiro eu tinha.
Nova York sempre me deu a sensação de felicidade vitoriosa. Mas, agora, pairava sobre a cidade uma névoa invisível, como uma grande depressão sobre os arranha-céus. Rostos baixos, discussões ríspidas sem motivo, o taxista paquistanês queria me dar porrada, os museus estavam vazios e mesmo obras de grande arte me pareciam inúteis agora: para quê?
Andava pelas avenidas, vendo rostos sofridos, pensando na minha morte cada vez mais próxima. Minhas dores amainaram, através de mil gotas de morfina que, soube, já consolava sofrimentos desde o tempo dos faraós. Imaginei-me um faraó sem dor no alto do Empire State, de onde olhei a cidade triste. Quem sou eu, faraó inútil, que nunca fez nada pela pátria ou raça? Não era possível minha vida passar em brancas nuvens.
Mas, como encontrar felicidade nos parcos dias que me restam? As Torres Gêmeas já não existiam. Osama deve ter morrido com orgulho pelo seu horrendo crime. Alguma coisa relevante eu tinha de fazer. Como ele.
Na loja de armas, vi o belíssimo rifle de assalto F2000, construído pela FN Herstal na Bélgica, municiado com calibre 5.56x45mm. Como são belas as armas mortais! Depois de comprá-la, sob o olhar suspeitoso do vendedor, me senti poderoso e até com uma ponta de esperança. A esperança é a última que morre, diziam, mas no meu caso era a primeira. Ha, ha... Desculpe-me, Mr. Officer, mas esses detalhes são para que todos entendam a importância do meu gesto.
Alguma coisa tinha se perdido em NY. Os negros passavam por mim e voltaram a ter aquela palidez antiga, quando humilhados nos anos 1960. Jovens passavam sem rir. Mulheres nervosas apressavam-se com olhos temerosos. Imenso aumento de sem-tetos no metrô. Era Natal, mas até a famosa árvore do Rockefeller Center estava quase apagada, com ramos descaídos.
O Hotel Waldorf Astoria, inaugurado em 1931, abrigava os participantes de uma cúpula, para tentar alguma solução para o trágico Ocidente agora desorientado. A humanidade vivia em suspense, sob delírios irracionais, totalitários. Grandes perigos rondavam depois das últimas eleições americanas. Até guerra nuclear voltou a ser possível.
Eu estava em frente ao hotel, bem vestido, maquiado para esconder a doença, com uma aparência impecável mascarando minha lenta agonia. Foi então que tudo começou a acontecer, Mr. Officer. Surgiu na porta art déco do hotel a grande comitiva que eu esperava, imóvel na calçada.
Os líderes mundiais saíam, sorridentes, como se o mundo fosse uma primavera. Eu tinha parado com a morfina, pois queria sentir a dor do meu desejo. Trêmulo de sofrimento, meu rifle F2000 começou a atirar.
Minha dor era mesclada a um certo triunfo, ao ver o monte de seguranças tentando salvar o corpo que caíra, trespassado por minhas balas calibre 5.56.
E vós, police officers, podem me matar, cadeira elétrica, forca, o que quiserem. Danem-se; eu só tenho um mês de vida mesmo.
Mas, graças a Deus, usei esse tempo para ajudar a acabar com o pesadelo americano.
Antes de vocês me prenderem, a última imagem que vi foram cabelos alaranjados, junto à sarjeta, cabelos de um corpo enorme, como um grande urso feroz ou um imenso periquito ensanguentado. Vou morrer, tudo bem, mas ajudei a salvar a humanidade. (Arnaldo Jabour)

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