7 de jul. de 2016

Histórias ou estórias...

Melhor não duvidar.... (Num consultório)
Chamei a próxima cliente reparando na singularidade da sua graça: nome inglês com sobrenome castelhano.
Entrou uma jovem mestiça de uns trinta anos, morena, tez com traços africanos, mas com cabelos negros e lisos de ameríndia. A estatura mediana, corrigida pelo salto alto, realçava-lhe as curvas típicas da raça negra. Belíssima.
- Bom dia. Saudei-a.
- Bom dia. Respondeu com o sotaque hispânico que me chamou a atenção.
Solicitei que entrasse no banheiro e se trocasse para a ultrassonografia ginecológica. Fê-lo prontamente e logo deitou-se à maca.
Dei início ao exame, procurando puxar assunto para quebrar o gelo, como de praxe.
- A senhora vem de onde?
- Venezuela.
- Ah! E trouxe alguma miss? Brinquei.
- Não. Respondeu rindo. Estão todas lá.
- Teve uma que morreu, não foi?
- Morreu não. Mataram.
- Como anda a situação por lá?
- Horrível. Muito brava mesmo.
- O governo tem perseguido muita gente?
- Tem sim.
- Sei que a inflação anda astronômica. O dólar disparou. Ouço falar em escassez de produtos...
- Verdade. Mas a crise maior nem é econômica. É social. Nós médicos, por exemplo, em Caraças, não conseguimos trabalhar em paz. Estão sempre de olho. Se não atendermos bem... (Fez uma careta). Até cadáver temos de socorrer porque as paredes têm olhos e ouvidos. Por pequenos deslizes, levam-nos para uma favela qualquer e aí... Já viu.
- Ah! A senhora é médica? Resolveu fugir para cá?
- Sim. Mas, pelo que eu vejo, o Brasil está no mesmo caminho.
- Acha mesmo? Perguntei já meio que concordando com ela.
- Tenho certeza. Na Venezuela foi igualzinho. Muita gente duvidava de que os socialistas tomariam o país. Começou como aqui, com um programa semelhante ao bolsa-família, depois desarmamento da população civil, depois um programa de importação de médicos cubanos, isso tudo acrescido de casos e mais casos de corrupção política.
- Hum...
- Nas eleições acontecia a mesma coisa: os vermelhos sempre ganhavam por 51% a 49% dos votos. Idêntico ao último pleito no Brasil.
- Acha que houve fraude?
- Acho nada. Não há mais dúvidas quanto a fraude nas eleições.
- Na verdade, Brasil, Venezuela, Bolívia e Equador seguem a cartilha do Foro de São Paulo.
- Achei que ela não saberia do que se tratava, mas para minha surpresa ela respondeu: - Exatamente. O Foro foi fundado por Fidel Castro e Lula, com participação fundamental do nosso Hugo Chávez. É o Foro de São Paulo que comanda tudo o que está acontecendo nesses países. E não se engane não: na Venezuela havia um clima assim como está hoje no Brasil: muita gente duvidando do poder socialista. Foi muito rápido. Questão de dois anos e deu no que deu.
- Mas aqui nós não iremos permitir.
Ela riu ironicamente e continuou: - Se este governo não cair agora, pode esperar pelo pior. A bomba socialista estoura de repente.
- Nem me fale. Dá até medo. Acha que a pobreza aumentou ou diminuiu na Venezuela?
- Para os pobres acho que piorou. Para classe média ficou impraticável. Estão todos deixando o país. Não tem como ficar lá mais.
- Isso é muito ruim.
- Demais.
- Os impostos aumentaram muito, não é?
- Muito. Aqui também estão aumentando, viu? Exatamente igual ao que foi lá.
- Fico impressionada de ver a semelhança. Mas os brasileiros parecem hipnotizados, assim como estávamos nós a quatro ou cinco anos. Incrível! Estive lá recentemente. Queria ficar um mês com a minha família. Não consegui passar nem uma semana.
- Por que?
- Muito difícil viver lá. Violência demais. Impossível sair de casa.
- Entendo.
- E é incrível. Em todo lugar na Venezuela só se fala em política. Exatamente como aqui nos últimos dias.
- E nada de o Maduro apodrecer. Brinquei.
- Podre ele já é. Só não cai. Pensa que o governo do PT vai cair também?
- Doce ilusão! Na Venezuela nós paramos o país! Greve geral por sessenta e poucos dias. População tomando as ruas. Quem sofreu? O povo! O governo não arredou pé. Vocês não acreditam, mas eu estou vendo aqui a reprise do filme a que assisti no meu país. Não tem o que tirar nem pôr.
Deu-se uma pausa. Medi o útero e fotografei. Depois continuei.
- Mas então, creio que a senhora fugiu para o país errado.
- Parece que sim. Respondeu meio enternecida.
Dei o diagnóstico. Ela agradeceu, depois entrou no banheiro, trocou-se e saiu sem demora. Desejei-lhe boa sorte.
- Boa sorte para nós, respondeu. Iremos precisar muito. Esses governos não caem assim não. Não adianta povo na rua, greve geral, processo na justiça, nada disso. Eu vim para o Brasil fugindo do socialismo e estou vendo vocês trilharem o mesmo caminho pelo qual passamos.
- Imagino.
- Não tem jeito. Para nos livrarmos dessa gente, terá de ser derramado sangue. E não é sangue de Maduro nem de Lula não. É sangue de gente inocente.
- Espero que não. E oro por isso.
- Eu já orei muito. Cansei.
Esbocei expressão de desesperança. Ela retribuiu da mesma forma.
- Espero vê-la de novo.
- Igualmente.
Ela atravessou a porta e desapareceu. Senti um peso mas costas, um misto de pena dela e de nós todos. Sem outra opção, chamei o próximo cliente..... (AD) 

O poder da educação. 
Conta-se que o legislador Licurgo foi convidado a proferir uma palestra a respeito de educação.
Aceitou o convite mas pediu, no entanto, o prazo de seis meses para se preparar.
O fato causou estranheza, pois todos sabiam que ele tinha capacidade e condições de falar a qualquer momento sobre o tema e, por isso mesmo, o haviam convidado.
Transcorridos os seis meses, compareceu ele perante a assembleia em expectativa. Postou-se à tribuna e logo em seguida, entraram dois criados, cada qual portando duas gaiolas. Em cada uma havia um animal, sendo duas lebres e dois cães. 
A um sinal previamente estabelecido, um dos criados abriu a porta de uma das gaiolas e a pequena lebre, branca, saiu a correr, espantada. 
Logo em seguida, o outro criado abriu a gaiola em que estava o cão e este saiu em desabalada carreira ao encalço da lebre. alcançou-a com destreza trucidando-a rapidamente. 
A cena foi dantesca e chocou a todos. Uma grande admiração tomou conta da assembleia e os corações pareciam saltar do peito. 
Ninguém conseguia entender o que Licurgo desejava com tal agressão. 
Mesmo assim, ele nada falou. Tornou a repetir o sinal convencionado e a outra lebre foi libertada. A seguir, o outro cão.
O povo mal continha a respiração. Alguns mais sensíveis, levaram as mãos aos olhos para não ver a reprise da morte bárbara do indefeso animalzinho que corria e saltava pelo palco.
No primeiro instante, o cão investiu contra a lebre. Contudo, em vez de abocanhá-la deu-lhe com a pata e ela caiu. Logo ergueu-se e se pôs a brincar. 
Para surpresa de todos, os dois ficaram a demonstrar tranquila convivência, saltitando de um lado a outro do palco. 
Então, e somente então, Licurgo falou; Senhores, acabais de assistir a uma demonstração do que pode a educação. Ambas as lebres são filhas da mesma matriz, foram alimentadas igualmente e receberam os mesmos cuidados. Assim igualmente os cães. A diferença entre os primeiros e os segundos é, simplesmente, a educação. E prosseguiu vivamente o seu discurso dizendo das excelências do processo educativo.
A educação, baseada numa concepção exata da vida, transformaria a face do mundo. Eduquemos nosso filho, esclareçamos sua inteligência, mas, antes de tudo, falemos ao seu coração, ensinemos a ele a despojar-se das suas imperfeições. Lembremo-nos de que a sabedoria por excelência consiste em nos tornarmos melhores. 
Você sabia?
Que Licurgo foi um legislador grego que deve ter vivido no século quarto antes de cristo?
E que o verbo educar é originário do latim educare ou educcere e quer dizer extrair de dentro?
Percebe-se, portanto, que: a educação não se constitui em mero estabelecimento de informações, mas sim de se trabalhar as potencialidades interiores do ser, a fim de que floresçam, à semelhança de bela e perfumada flor. 
O mundo é feito pelo esforço dos inteligentes, mas são os imbecis que o desfrutam.

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