5 de jun. de 2016

País sem bússola ...

• Novos cargos não afetarão as contas, diz governo. Postos extintos compensam 14 mil criados, afirma Planejamento. 
• Químio por via expressa é melhor em tumor de ovário. Uso de injeção em membrana do abdome teve melhor resultado em pesquisa. leia

• Em relatório, Macri apresenta conta herdada de Kirchner. Diagnóstico detalha situação em áreas como saúde, educação e segurança. 
• Alta diplomata dos EUA diz confiar em instituições do país. Ela afirmou que governo americano mantém relações normais com o Brasil. 

Leitor petista diz que foi roubado.
O sujeito estava indignado. Havia sido roubado, segundo me escreveu. Enquanto o lia, perguntava eu a mim mesmo: teria sido ele vítima de uma saidinha de banco? Levaram-lhe o carro? Comigo, aliás, já aconteceu isso e pior. Mas não era por aí o seu queixume. Imaginei que lhe tivessem tomado o posto de trabalho ou o poder de compra, na mão grande da recessão e da inflação. Sua ira tampouco provinha disso. O que o incomodava pessoalmente, a ponto de sentar-se para escrever-me, era a subtração de seu voto. Roubaram-me o voto que dei na eleição de 2014.
Parei para revirar os bolsos da minha própria cidadania. Percebi que graças a votos como esse, centenas de bilhões escoaram pelo ralo da irresponsabilidade fiscal. Outro tanto no petrolão e em obras de estatais. E a cada semana aumenta a lista de crimes e de criminosos nas confissões e delações da Lava Jato e congêneres.
Meu leitor era, pois, fã incondicional de dona Dilma. Um dos remanescentes. Daqueles que, mesmo diante de tudo que se sabe e do quanto mais se possa supor sem recorrer a trovoadas da imaginação, não sentem o menor remorso do que fizeram na última eleição presidencial. Seus neurônios e sua luta política esgrimam contra um dado inquestionável: para que a pior presidente da história da República volte ao poder basta que 28 (só isso!) entre os 81 senadores considerem que Dilma não cometeu crime de responsabilidade, ou entendam que ela deve continuar governando mesmo que tenha cometido esse gravoso crime. Por quê? Porque é o que está na Constituição, que vem sendo cumprida e continuará sendo cumprida até o final desse processo. Duela a quién duela.
Ele considera seu voto em Dilma mais valioso do que o bem do país, mais significativo do que todos os bilhões roubados. Seu voto paira acima dos sucessivos tombos do PIB e da inflação de dois dígitos. Sacode ombros ante os 11 milhões de desempregados, ante o presente e o futuro sonegado a tantos numa conta sinistra que não para de crescer.
Vá que o moço nunca tenha parado para pensar que presidencialismo sem impeachment é ditadura. Admito que ele ignore isso. Mas como pode considerar que seu voto sozinho arranca da Constituição o preceito do impeachment? Teria sido o caso de Fernando Collor uma pegadinha constitucional, para valer só uma vez?
Meu indignado leitor está irado, também, com algumas indicações políticas feitas por Temer. Nisso estamos de acordo, com duas enormes diferenças.
1a) Eu sempre estive indignado. Nunca chamei nenhum sacripanta de herói do povo brasileiro. Minha indignação moral não é seletiva.
2ª) Sob o governo Temer, uma certeza eu tenho e espero que seja suficientemente majoritária ao término do julgamento em curso no Senado: a área financeira de seu governo não dorme de touca nem faz que não vê quando bilhões somem do erário e das estatais.
les não precisam posar de gerentões ou faxineiros para promover a reconstrução que a nação - legítima soberana da democracia - exigiu nas ruas. (Percival Puggina, membro da Academia Rio-Grandense de Letras, arquiteto, empresário e escritor) 

Até quando os bancos vão roubar o seu dinheiro? 
É muito provável que você não se lembre, mas eu já escrevi para O Antagonista. Mantinha uma coluna semanal, batizada de Pataca, Felipe, um blend jaboticaba em alusão às patacas (dinheiro) e àquela famosa marca de relógios.
Parei por falta de tempo e - confesso - incapacidade de gerar ideias relevantes em frequência semanal. Sabe como é: para o Mario e para o Diogo - meu sócio Rodolfo também é assim – as ideias fluem como o ar penetra pelas narinas e preenche os pulmões. Para mim, não. Cada novo texto é um parto natural, desde a originação do raciocínio até sua formulação em palavras. Conjunções e orações subordinadas, então, nossa... Uma semana não é tempo suficiente para fecundação, gestação, contração...
Meses se passaram e, com a estruturação desta newsletter, Mario e Diogo voltaram a me convidar para contribuir. Eu, obviamente, continuava como leitor assíduo - a palavra correta seria obsessivo - e, no fundo, sabia que podia colaborar com um ou dois temas esporadicamente. Até o André Feijoada marca seus gols de vez em quando.
Ainda que o processo fosse doloroso, era também recheado de prazer. Eu hoje tenho menos tempo do que antes. Tenho também menos cabelos agora - e não posso perder os poucos restantes buscando novas ideias interessantes. As poucas que me restam uso nos relatórios da Empiricus.
Acima de tudo isso, entretanto, está um negócio chamado vocação. Eu estudei durante toda a infância e adolescência no Colégio São Luís. Alma jesuíta, entende? Então, eu realmente acredito que você tem um chamado a atender.
Ok, ok, eu também não entro numa igreja há mais de ano. Ao falar da alma, me refiro àquilo que você tem de mais íntimo e visceral lá dentro de você, os seus imperativos categóricos. Alma no sentido definido por James Hilman em Soul's Code, o seu daimon, um negócio lá dentro que nem você mesmo consegue entender.
Você não pode trair essa alma, pois ela há de se vingar de você. Seu daimon tem seus próprios ancestrais e você não vai conseguir fugir deles.
A minha alma é de um alocador de recursos financeiros, próprios e de terceiros. Sou aquele sujeito que procura as melhores oportunidades de investimento disponíveis no mercado. Em palavras mais diretas: busco as melhores alternativas para ganhar dinheiro, para mim e para os outros. Esta é a minha vocação, 24x7.
E aqui entra o meu encontro cirurgicamente preciso com esta turma. Se você realmente é um alocador de recursos - e isso é muito diferente de apenas estar um alocador de recursos - você é um antagonista.
Deixe-me explicar um pouco melhor, pois isso talvez seja novo para você.
Todas as oportunidades de investimento disponíveis no mercado refletem um cenário de consenso. As cotações na tela da Bovespa ou do Tesouro Direto não resultam da aleatoriedade. Aquela ação vale tanto porque tem-se uma certa expectativa de consenso para seus lucros (sendo mais preciso, fluxos de caixa) futuros. Um determinado título público paga tal taxa de juro porque há uma projeção mediana sobre o que o Copom fará com a taxa Selic. Para o fundo imobiliário, estimam-se os fluxos esperados para os alugueres. E por aí vai.
Então, meu caro, se você tiver apenas a visão de consenso, ou seja, se você gostar do protagonista deste filme, você vai apenas ter retornos para seus investimentos em linha com a média, pois essa visão já estará refletida, previamente, nos preços.
Ou, provavelmente, seus rendimentos serão ainda piores, porque o investidor pessoa física arca com custos operacionais (taxas de administração, performance, corretagem, emolumentos) superiores aos profissionais. Você já começa o jogo para ser o grande perdedor. Você é quem paga a festa toda.
Todo verdadeiro caçador de boas oportunidades mantém posições contrárias àquelas de consenso. Se não for assim, ele existe apenas para fazer a roda girar, sendo o responsável por alimentar bancos, corretoras e governos com suas incontáveis taxas e impostos.
 No mercado, ou você é um antagonista, ou você é, no máximo, um medíocre, o que já seria uma vitória.
Eu precisava lhe dizer essas palavras. Para alimentar a minha alma. O protagonismo dos mercados financeiros está com os bancos e com as corretoras. Você precisa atacar esses caras, hoje e agora.
Talvez eu não tenha ainda sido suficientemente preciso em minhas considerações. Permita-me esclarecer o ponto com apenas dois exemplos materiais. Algo precisa ficar claro aqui: se você deixa seu dinheiro investido no banco hoje, você está sendo literalmente roubado. Não há espaço para eufemismo.
O primeiro exemplo se refere à poupança - eu não começo por ela numa escolha randômica; faço questão de iniciar por aqui porque a maior parte da população brasileira deixa seu dinheiro na velha caderneta. E qual o resultado disso? Você simplesmente está destruindo seu patrimônio e transferindo riqueza para o governo. Esclareço: hoje, a poupança rende menos do que a inflação. Ou seja, ao deixar seu dinheiro ali, você perde poder de compra a cada mês. E quem se beneficia da inflação? O governo, através de um mecanismo chamado senhoriagem.
Mas eu não quero tornar o assunto muito técnico. O recado aqui é bastante simples: você precisa tirar o seu dinheiro da poupança, imediatamente.
Vou ao segundo exemplo. Ele surge como corolário do primeiro. Qual o caminho primeiro e mais natural para o sujeito que percebe a necessidade de tirar a grana da poupança? O cara, convencido pelo gerente, aplica no fundo DI do banco. Esse mesmo fundo que cobra 1,5%/2% de taxa de administração ao ano, para não fazer administração nenhuma - em um fundo DI, não há inteligência; o gestor pega a sua grana e aplica em títulos públicos, sem pensar. Todos fazem isso.
Há um nome bastante popular para isso: roubo.
Esses são apenas dois exemplos mais óbvios dessa brincadeira toda. Pense comigo: o gerente de seu banco está interessado em gerar resultados para quem: para você, para si ou para o próprio banco? Eu tenho alguns palpites e certamente não apontam para a primeira opção.
O que você faria se estivesse doente: consultaria a um médico de confiança para saber qual medicação deve tomar ou iria até uma indústria farmacêutica perguntar se vale a pena tomar algum de seus remédios, que podem ser comprados ali mesmo pela simbólica quantia de R$ 249,00 por caixa?
Macacos ainda gostam de bananas.
Nem bancos, nem corretoras. Nem Folha, nem Valor. (Felipe Miranda)

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