16 de jul. de 2015

Política, o espetáculo do povo...

• Arrecadação cai, e governo prevê queda de até 2% do PIB neste ano. Oficialmente, Receita anunciou que trabalha com retração de 1,5%. 
• Senado articula veto a redução da maioridade penal. Redução da idade perde força após aval para ampliar internação de jovens. 
• Projeto de repatriação de recursos não avança no Senado. Governo sofre nova derrota, e votação deve ficar apenas para agosto. 
• Câmara confirma regras para financiamento privado. Empresas podem doar a partidos até 2% de seu faturamento bruto, e sem ultrapassar R$ 20 milhões. Hoje, legendas como PT, PCdoB e PSB vão tentar novamente acabar com o financiamento privado por meio da apresentação de emendas à PEC da reforma política. 
• Senado agrava pena para menores infratores. Regime especial de internação alcançaria jovens entre 18 e 26 anos envolvidos, quando menores, em crimes graves. Período de internação poderá durar até dez anos. Mudanças contrastam com redução da maioridade penal aprovada na Câmara. 
• Lula fica de fora em disputa com Aécio ou Marina no Rio, revela pesquisa. Cariocas também rejeitam governo Dilma: índice de reprovação chegou a 86%. Apenas 11,7% do eleitorado do Rio diz estar satisfeito com a presidente, de acordo com Paraná Pesquisas. 
• Suíça extradita Jeff Webb, vice da Fifa, para os EUA. Cartola está numa prisão de NY; ele foi o único entre os dirigentes presos a concordar com extradição.

Para baixo, marche! 
. Quando o Presidente Fernando Henrique apareceu em público usando uma meia furada, o Brasil inteiro viu isso na televisão, nos jornais e em outros veículos de imbecilização coletiva. Mas prometo-lhe uma medalha se me disser, sem recorrer a algum arquivo, o que ele declarou naquela ocasião. Deve ter sido assunto importante, mas confesso que eu também não sei.
. Será que a meia furada era mais importante que a declaração? Talvez fosse algo vazio, enganoso ou demagógico, coisa não rara em pronunciamentos oficiais; mas não consigo imaginar a meia furada como mais importante, qualquer que fosse o assunto. No entanto, o prato do dia para os veículos de imbecilização coletiva foi a meia furada, relegando a inevitável esquecimento o que disse o presidente.
. Tornou-se amplamente aceito o qualificativo baixaria para quase tudo que a TV apresenta, e parte considerável dos próprios noticiários já pode ser assim qualificada. Em qualquer região do mundo onde alguém decida consertar com uma torta a cara de um Genoíno, esse será o assunto do dia na mídia, e não o que ele estava dizendo. Neste caso concreto, a vantagem é inegável, mas…
. Durante as atividades de um Fórum Social Mundial, a equipe de um canal nacional de TV dedicava-se a filmar palhaçadas que se exibiam diante de um dos locais do evento. Um dos cinegrafistas foi interpelado: - Lá dentro eles estão discutindo assuntos importantes. Acho que vocês devem ir para lá e não perder tempo com isso.
. Ele respondeu, um tanto constrangido: - Acontece que nós temos um roteiro para seguir.
. Admito ser necessário alguém supostamente esclarecido elaborar um roteiro para os debiloides que vão a campo colher imagens. E fiquei comentando com os meus botões: Se o roteiro ignora o principal e dá destaque a palhaçadas, bem baixa será a qualidade da reportagem. E se a orientação que eles recebem é essa, qual o objetivo? Quem é o orientador, o roteirista?
. Em outra ocasião, participei de um congresso e acompanhei a filmagem que ali se fazia para a TV. Na entrada do auditório onde os oradores se apresentavam, uma debiloide dessas devia ser filmada para transmitir aos telespectadores sua vasta erudição sobre o evento. Era um texto evidentemente decorado, mas ela tropeçou várias vezes no discursinho, e a filmagem teve de ser recomeçada outras tantas vezes. O cinegrafista já estava acostumado, e reiniciou sempre o trabalho sem se queixar. Depois da quarta ou quinta falha, uma pergunta da debiloide revelou o importante assunto que lhe desviava a atenção: - Meu cabelo está bom?
. Se as cogitações de gente com essa função têm tal magnitude, a inevitável consequência é a baixa profundidade habitual dos noticiários. É inútil esperar outra coisa desses cicerones de eventos, que enchem a tela com sua cara vazia, cópia xerográfica do escasso conteúdo interno. Parecem mesmo ter a função explícita de modelos para a sociedade, e contribuem a seu modo para a decadência coletiva.
. O mesmo ocorre em todos os países, em maior ou menor grau. Em Washington, por ocasião da Marcha Pró-Vida, mais de cem mil manifestantes contrários ao aborto eram ignorados, enquanto a mídia abria espaço para o minguado protesto de vinte abortistas. É claro que o roteirista já sabia onde encontrá-los…
. A mídia sensacionalista se ocupa em divulgar o acessório em vez do essencial, o estapafúrdio em vez do habitual, o degenerado em vez do normal, o criminoso em vez do honesto, o secundário em vez do importante. Talvez haja na confraria midiática quem julgue estar prestando serviço útil à sociedade. Mas eu fico sem entender como alguém possa considerar útil a difusão de crimes, desonestidades, excentricidades, ações desequilibradas – todas essas coisas que quanto mais se mexe, mais fedem.
. Produtores e artistas desse naipe realizam na TV a função de propagadores do submundo que mostram (e provavelmente frequentam). Parece-me muito lógico concluir que o resultado desejado é exatamente esse. Pode não ser assim para todos, mas há gente em altos escalões que decide e quer exatamente isso.
. E aí temos a sociedade decadente em passo cadenciado para o fundo do poço. Com naturalidade, chegou-se à situação deprimente em que o criminoso e marginal tornaram-se o normal, o fútil ou inútil tornou-se cobiçado. Uma maioria de tamanho indefinível aí caminha, de mãos dadas e em velocidade máxima, obediente à palavra de ordem. Qual a ordem ditada pela voz de comando? Para baixo, marche! (Jacinto Flecha) 

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