14 de ago. de 2014

Estamos. Voltaremos, a interrogação…



Dilma, os evangélicos, os políticos, Deus e o capeta 

Pode haver outros, mas creio que poucos jornalistas combatem com tanta firmeza o preconceito que há no Brasil, nas camadas ditas mais cultas - no geral, são apenas pessoas orgulhosas do pouco que sabem e do muito que não sabem - contra os evangélicos. Na verdade, existe um preconceito muito forte contra os cristãos. Os católicos também são alvos constantes de desconfiança. Mas não vou tratar disso agora. O que me incomoda profundamente em período eleitoral é a busca desesperada dos políticos pelos votos dos crentes. Muitos chegam a afirmar até uma convicção que não têm só para conquistar o eleitor.

Nesta sexta, por exemplo, a presidente Dilma esteve na Assembleia de Deus do Brás, em São Paulo - um braço da Congregação de Madureira. Foi convidada a discursar no Congresso Nacional de Mulheres da Assembleia de Deus Madureira, que reuniu fiéis de todo o país. Lembrou que o Brasil é um país laico, mas citou o Salmo 33, de Davi: Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor. Então tá bom. Eu preciso lembrar aqui algumas coisas.

Quando ministra do governo Lula, Dilma concedeu mais de uma entrevista dizendo-se favorável à legalização do aborto. Está tudo documentado. Eu lido com fatos, não com impressões. Notem, leitores: um candidato tem o direito de pensar o que quiser. Não pode, ou não deve, é fingir o que não pensa. A então ministra chegou a comparar a eliminação de um feto com a extração de um dente. Houve uma forte reação dos cristãos - e percebam que, aqui, eu não estou me posicionando sobre o aborto, mas sobre a hipocrisia política. E se inventou uma Dilma que seria contrária ao aborto.
A então candidata foi a um programa de TV e se disse católica - chegando a chamar Nossa Senhora de deusa. O cristianismo é monoteísta, vale dizer: crê num único Deus. Nossa Senhora, como se sabe, é uma santa. Chegou a ir a Aparecida e foi filmada persignando-se - de maneira errada, diga-se. Eleita presidente, nomeou para o Ministério da Mulheres Eleonora Menicucci, uma defensora fanática do aborto, que já havia confessado tê-lo feito, em outras mulheres, com as próprias mãos. Fatos. Eu só lido com fatos.

Os cristãos, com mais ênfase os evangélicos, fazem um intenso trabalho de convencimento contra a descriminação das drogas, por exemplo. O governo desta Dilma que vai a um templo evangélico citar um Salmo de Davi pôs em prática uma política pública escancaradamente favorável à descriminação, ainda que o faça de maneira um tanto oblíqua. Em maio de 2013, vários entes federais promoveram um seminário em Brasília, patrocinado com dinheiro público, em favor da descriminação e da legalização das drogas. Não se convidou para o evento um único representante que se opusesse a essas teses. Fatos. O governo Dilma, por intermédio do Ministério da Saúde - especialmente na atual gestão, de Arthur Chioro, combate com unhas e dentes as chamadas comunidades terapêuticas, que atuam com dependentes químicos - algumas são ligadas a igrejas evangélicas. Fatos. No dia 27 de janeiro de 2012, no Fórum Social de Porto Alegre, Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, afirmou que os petistas deveriam se preparar para travar com os evangélicos uma luta ideológica para disputar a chamada classe C. Entenderam? Para ele, seu partido e os cristãos dessas denominações têm interesses contraditórios.

Também não demonizo posições. Cada um pense o que quiser e dispute o coração do eleitor. O que estou cobrando é honestidade intelectual. Dilma tem o direito de defender a descriminação do aborto ou sua política simpática à descriminação das drogas. O que me desagrada, e isto vale para qualquer partido, é essa mania de alguns políticos de achar que Deus tem prazo de validade: geralmente, vai de julho a outubro dos anos pares, que são os eleitorais. Depois, quem costuma dar as cartas na política é mesmo o capeta do vale-tudo. (Reinaldo Azevedo) 

Uma opinião sensata antes do fatoOxalá nossos eleitores venham a tê-la também...
A força dos nulos, brancos e indecisos
Não cruzem os braços, não sejam meros espectadores. Vamos votar, está combinado?
Eles são 24%, quase um quarto do eleitorado brasileiro. Tenho simpatia por esse exército de deserdados, órfãos, ou qualquer nome que se queira dar aos 34 milhões de brasileiros aptos a votar, mas dispostos a abrir mão de escolher o próximo presidente. Os dados são da última pesquisa do Ibope, divulgada na quinta-feira.
Tenho simpatia, mas, diante da encruzilhada em que se encontra o Brasil, sinto vontade de dizer: escolham um candidato, mesmo que não estejam totalmente convictos, mesmo que tenham de cobrar depois. Sou contra o voto obrigatório, por considerar o voto um direito e não um dever. Mas, se assim é a lei em nosso país, vamos votar em alguém, está combinado?
Não cruzem os braços, não sejam meros espectadores, não se apoiem na falsa comodidade de pensar que nada têm a ver com isso que está aí. Numa democracia, somos todos responsáveis, em algum grau, pelos rumos da cidade, do Estado e do país.
São vários os sentimentos por trás da vontade de anular ou deixar branco o voto, cara a cara com a urna. Desencanto, revolta, indiferença, impotência, desinformação, desconfiança. Vontade de não se misturar à corja de políticos que só sabem aumentar os impostos e roubar a educação, a saúde, a habitação, o transporte, a segurança. Mentem com desfaçatez. E roubam até dos pobres.
Simpatizo com os nulos, brancos e indecisos, mas jamais consegui, na hora de votar, assumir esse protesto inútil. Lamento que o eleitor jovem tenha se afastado, diante da sucessão de escândalos e alianças sujas no partido que mais prometeu ética na recente história política brasileira. Entre 2010 e 2014, caiu 31% o número de eleitores entre 16 e 18 anos. Por que, Lula? Por que, Dilma? Por que, oposição? É uma questão de agenda, arrogância, credibilidade ou tudo junto?
Muitos jovens também se desiludiram com a violência e o vandalismo dos protestos de rua. Protestos que começaram vestidos de branco e terminaram de preto. Numa ditadura, o extremismo se entende. Numa democracia, é patético. Foi covarde e nojenta a repressão policial - de uma truculência e omissão inaceitáveis. Mas os autoproclamados líderes dos protestos afastaram o povo, que não quer um país em chamas.
Há quase 142 milhões de eleitores no Brasil. De acordo com a última pesquisa do Ibope, Dilma Rousseff (PT) tem 38%; Aécio Neves (PSDB), 23%; Eduardo Campos (PSB), 9%; outros, 6%. Os nulos, brancos e indecisos somam 24%. Mais que o segundo colocado na disputa para a Presidência.
Trinta e quatro milhões de brasileiros, a dois meses das eleições, não têm em quem votar para presidente, por rejeição ou desinteresse. No mundo, somente 37 países têm mais habitantes - não eleitores - que nosso exército de órfãos da política.
Esse enorme contingente é valioso para todos os candidatos, porque quem já decidiu dificilmente mudará o voto, a não ser que a campanha revele algo catastrófico. Até agora, a disputa anda tão fria nas ruas que lembra a Copa do Mundo. Provavelmente continuará assim, incendiando apenas as redes sociais, que têm estado intragáveis com a invasão dos militantes.
Campos, na ansiedade de subir para dois dígitos e conquistar os indecisos, afiou um discurso de terceira via, pela educação em tempo integral em todas as classes sociais, e afirmou: Os únicos que não governarão com Renan, Sarney e Collor somos nós, Marina e eu.
A nova classe média, cortejada pelo PT, anda ressabiada. Segundo uma pesquisa do Data Popular, 32% da classe C acha desesperadora a situação. Para 69%, está difícil pagar as contas de manutenção da casa e de comida. Com malabarismos, a classe C tenta fazer o gasto caber no orçamento. Um exercício que o governo ignora. Os gastos públicos aumentam sem parar. O Planalto sabe que o povão não lê nada sobre economia, e muitos nem recebem conta de luz.
Se você não quiser ou não puder apagar a luz e se mudar do Brasil, pense bem antes de votar nulo ou branco. Informe-se e decida. É aqui, neste país onde crescem os filhos e os netos, que as mudanças precisam acontecer. Todos os candidatos sabem disso. Tanto que os três prometem mudar.
Não dá para conviver com esse noticiário escabroso de roubalheira oficial, escolas depredadas e sem professores, hospitais sem higiene, sem leitos, sem equipamento e sem médicos, barracos sem sistema de esgoto, mares e lagos poluídos, assaltantes e PMs que matam e estupram.
É nocivo para a saúde ver como o Brasil maltrata os honestos e enriquece larápios. Vote em Dilma. Vote em Aécio. Vote em Campos. Mas vote mesmo, na hora da verdade. (Ruth de Aquino, Época)

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