Ricardo Lewandowski, quando atuou no processo do mensalão, bateu de frente com
o relator, Joaquim Barbosa, perdendo a simpatia da opinião pública e da opinião
publicada. O país inteiro torcia pela condenação dos réus. Mesmo assim, todos
reconheceram estar o ministro-revisor no direito inalienável de expor suas
concepções, ainda que acusado de ser advogado de defesa dos mensaleiros.
Conduzido outra vez ao centro do palco das atenções gerais, ontem, Lewandowski
deu nova demonstração de que gosta de remar contra a maré. Só que sua canoa
virou. Não dá para entender como proibiu populares, advogados, a imprensa e a
própria TV-Justiça de assistir e registrar o depoimento do deputado-pastor Marco
Feliciano, acusado de estelionato e de induzir à discriminação e ao preconceito de
raça.
A desculpa do magistrado foi de que a sala onde seria prestado o depoimento era
pequena demais, podendo verificar-se tumulto e confusão. Argumentos pueris para
quem constata serem mais do que amplas as instalações do Supremo Tribunal
Federal. Se a sala designada mostrava-se insuficiente, nada mais natural do que
requisitar outra, maior e capaz de abrigar quantos pretendessem estar presentes.
Pior fica alegar o risco de confusão e tumulto, ignorando a existência dos numerosos
agentes de segurança encarregados de zelar pelo bom andamento dos trabalhos
judiciários.
Lewandowski igualou-se ao depoente, que ainda esta semana fechou as portas da
Comissão dos Direitos Humanos, deixando o povo de fora na casa do povo. Deu a
impressão de ser o Supremo um acanhado quarto e sala onde não cabe ninguém.
Com todo o respeito, será a compulsão de proteger bandidos? O desprezo pelas
manifestações da sociedade? A concepção de superioridade frente ao direito de
informação? Tanto faz, pois o vice-presidente da mais alta corte nacional de Justiça
não desperdiçou a oportunidade de revelar-se de forma negativa diante do país.
Marco Feliciano está cada vez mais esperançoso de sair absolvido do processo a que
responde. (Carlos Chagas)
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