O texto, de tão perfeito, pintou a foto com
as suas reais cores. Vale a pena alternar entre foto e texto, para sentir o
colorido magistral que o Augusto obteve. (AC)
• A foto de Dida Sampaio é mais que o registro do momento em que Dilma
Rousseff, presidente da República há quase dois anos, cumprimentou o
ministro Joaquim Barbosa, que acabara de assumir a presidência do Supremo
Tribunal Federal.
• A imagem documenta a colisão frontal, consumada em estridente silêncio,
entre um homem e uma mulher assaltados por sentimentos opostos e movidos
por antagônicos estados de ânimo.
• O chefe do Poder Judiciário está feliz, de bem com a vida. A chefe do Poder
Executivo está contrafeita, nas fímbrias da amargura.
• Joaquim Barbosa é o anfitrião de uma festa. Dilma Rousseff é a convidada
que nada tem a festejar. Está lá por não ter conseguido livrar-se do convite.
• Ele se sente em casa e pensa no que fará daqui por diante. Ela pensa no que
ele fez e anda fazendo. E se sente obrigada a enviar um recado fisionômico ao
padrinho e aos condenados no julgamento do mensalão: se pudesse, estaria
longe dali.
• Só ele sorri. O sorriso contido informa que o ministro não é homem de
exuberâncias e derramamentos. Mas é um sorriso. Os músculos faciais se
distenderam, os dentes estão expostos, o movimento da pálpebra escavou
rugas nas cercanias do olho esquerdo.
• A presidente não sorri. (O companheiro ministro Ricardo Lewandowski foi
premiado com sorriso e dois ósculos (beijos)).
• Na foto, o que se vê no rosto da presidente é um esgar (gesto de escárnio,
trejeito, careta). A musculatura contraída multiplica os vincos na face direita,
junta os lábios num bico pronunciado e assimétrico, faz o olhar passar ao largo
do homem à sua frente.
• O descompasso das almas é sublinhado pelas mãos que não se apertam. A
dele ao menos se abre. A dela, nem isso. Dilma apenas toca Joaquim com a
metade dos quatro dedos. Ele a cumprimenta como quem acabou de chegar.
Ela esboça um cumprimento de quem não vê a hora de partir.
• Conjugados, tais detalhes sugerem que, se Joaquim Barbosa sabe que
chefia um dos três Poderes independentes e soberanos, Dilma Rousseff
imagina chefiar um Poder que dá ordens aos outros.
• Ela já deveria ter aprendido com o julgamento do mensalão que as coisas
não são assim. A maioria dos ministros são imunes a esgares. Ministros do STF
que temem carrancas nem precisam vê-las para atender aos interesses do
governo. Não são juízes. São companheiros. Por enquanto, são dois.
• Forçada pelas circunstâncias a participar de um festa protagonizada pelo
relator do julgamento do mensalão, a chefe de governo apareceu com a
carranca de tia rabugenta. Foi uma manifestação fisionômica de solidariedade
aos companheiros condenados pelo STF.
• Dilma só premiou com um beijinho em cada face e o sorriso possível, ao
revisor Ricardo Lewandowski, agora vice-presidente do Supremo e sempre
ministro da defesa dos mensaleiros.
• Renan Calheiros ( que volta em fevereiro/2013 ao comando da Casa do
Espanto) certamente terá direito a tratamento idêntico.
• A campeã brasileira do mau humor, consegue ser gentil com bandidos de
estimação instalados em cargos importantes. (Augusto Nunes, Revista Veja)
O botão eu não sabia foi removido.
Deu defeito por excesso de uso.
Deu na imprensa internacional
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