1 de out. de 2010

O céu e o inferno

Conta-se que um dia um samurai, grande e forte, conhecido pela sua índole violenta, foi procurar um sábio monge em busca de respostas para suas dúvidas.
- "Monge, disse o samurai com desejo sincero de aprender, ensina-me sobre o céu e o inferno."
O monge, de pequena estatura e muito franzino, olhou para o bravo guerreiro e, simulando desprezo, lhe disse:
- "Eu não poderia ensinar-lhe coisa alguma, você está imundo. Seu mau cheiro é insuportável."
- "Ademais, a lâmina da sua espada está enferrujada. Você é uma vergonha para a sua classe."
O samurai ficou enfurecido. O sangue lhe subiu ao rosto e ele não conseguiu dizer nenhuma palavra, tamanha era sua raiva. Empunhou a espada, ergueu-a sobre a cabeça e se preparou para decapitar o monge.
- "Aí começa o inferno..." disse-lhe o sábio mansamente.
O samurai ficou imóvel. A sabedoria daquele pequeno homem o impressionara. Afinal, arriscou a própria vida para lhe ensinar sobre o inferno. O bravo guerreiro abaixou lentamente a espada e agradeceu ao monge pelo valioso ensinamento.
O velho sábio continuou em silêncio.
Passado algum tempo o samurai, já com a intimidade pacificada, pediu humildemente ao monge que lhe perdoasse o gesto infeliz.
Percebendo que seu pedido era sincero, o monge lhe falou:
- "Aí começa o céu..."
Para nós, resta a importante lição sobre o céu e o inferno que podemos construir na própria intimidade. Tanto o céu quanto o inferno, são estados de alma que nós próprios elegemos no nosso dia-a-dia. A cada instante somos convidados a tomar decisões que definirão o início do céu ou o começo do inferno.
É como se todos fôssemos portadores de uma caixa invisível, onde houvesse ferramentas e materiais de primeiros socorros. Diante de uma situação inesperada, podemos abri-la e lançar mão de qualquer objeto do seu interior.
Assim, quando alguém nos ofende, podemos erguer o martelo da ira ou usar o bálsamo da tolerância. Visitados pela calúnia, podemos usar o machado do revide ou a gaze da autoconfiança. Quando a injúria bater em nossa porta, podemos usar o aguilhão da vingança ou o óleo do perdão.
Diante da enfermidade inesperada, podemos lançar mão do ácido dissolvente da revolta ou empunhar o escudo da confiança.
Ante a partida de um ente querido, nos braços da morte inevitável, podemos optar pelo punhal do desespero ou pela chave da resignação.
Enfim, surpreendidos pelas mais diversas e infelizes situações, poderemos sempre optar por abrir abismos de incompreensão ou estender a ponte do diálogo que nos possibilite uma solução feliz.
A decisão depende sempre de nós mesmos.
Somente da nossa vontade dependerá o nosso estado íntimo.
Portanto, criar céus ou infernos portas à dentro da nossa alma, é algo que ninguém poderá fazer por nós.
Pense nisso!
Sua vontade é soberana.
Sua intimidade é um santuário do qual só você possui a chave.
Preservá-la das investidas das sombras e abri-la para que o sol possa iluminá-la só depende de você.

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